Senhora presidente, meus caros consócios, os jornais noticiam a proposta de cortes orçamentários, pelo governo, nas cadeiras de sociologia e filosofia.
Essa medida mostra a falta de percepção e mesmo conhecimento das autoridades pela cultura e em especial pela importância das chamadas ciências humanas na visão do mundo.
Além dos limites de nossas fronteiras governamentais há no mundo uma tendência para exaltar o emprego da matemática através de dados e algoritmos e um exacerbar da técnica como fórmula de solução de todos os problemas, quando os algoritmos podem substituir grande parte dos processos mas mesmo entre estes se antepõe o juízo e a convicção que nenhum algoritmo substitui.
Uma reação a esses movimentos já se faz sentir com pronunciamentos contra as medidas governamentais por parte de pensadores nacionais e internacionais e no mundo acadêmico há um alerta geral contra a onda tecnicista que domina parte das ideias contemporâneas.
Os dados e as técnicas podem ajudar o conhecimento da sociedade, mas o humano e, portanto, o social, o econômico e próprio direito, a magistratura são muito mais complexos que o frio dos dados, do algoritmo e da própria matemática.
Temo menos pelas medidas governamentais do que pela ideologia dos números e da técnica que pode pela sua facilidade de absorção e simplificação dominar parte de nossa inteligência que mantém, ainda, o ranço colonial de “primeiro muno”.
Este, Senhora Presidente, é o alerta que permito submeter a este plenário num momento de predomínio dos números e da técnica, pois o social transcende o mundo dos números.
José Alfredo Ratton é membro do Consellho Superior do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)
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