A convite do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Eugenio Raúl Zaffaroni e Juarez Tavares lançaram no webinar Saindo do Prelo, respectivamente, os seus livros Colonização punitiva e totalitarismo financeiro: a criminologia do ser-aqui e Crime: crença e realidade. O evento foi aberto pela presidente nacional do IAB, Rita Cortez, que o anunciou como “uma tarde de gala, em razão da presença dos dois notáveis juristas”. Participaram do webinar o ex-presidente da Colômbia Ernesto Samper, atual secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul); o ministro Rogerio Schietti Cruz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e o professor Fernando Tenório Tagle, da Universidade Nacional Autônoma do México.
Antes das palestras dos autores, as obras foram apresentadas pela advogada Mariana Weigert, membro da Comissão de Criminologia do IAB e do Fórum Permanente de Política e Justiça Criminal da Emerj, e pela professora titular de Direito Penal da Faculdade de Direito da USP Ana Elisa Bechara. A diretora de Biblioteca e presidente da Comissão de Criminologia, Marcia Dinis, que mediou os debates, destacou a importância do projeto Saindo do Prelo: “É uma iniciativa voltada para divulgação de conteúdo jurídico e que tem sido extremamente gratificante”. A criminalista acrescentou: “A tarde de hoje é um momento muito especial e de imensa emoção, por se tratar do lançamento de obras produzidas por esses grandes juristas que, nas últimas décadas, vêm oferecendo esplendorosas contribuições para o pensamento humanista”.
Lógica perversa – Ao falar do livro do jurista argentino, Mariana Weigert, que inicialmente se referiu aos autores como “grandes referências no campo da Criminologia e do Direito Penal”, disse: “O professor Zaffaroni tem nos ensinado que não podemos importar saberes e teorias criados em outros lugares e destinados a outras realidades”. De acordo com Mariana Weigert, “na sua crítica ao totalitarismo financeiro, o autor demonstra que os chefes executivos das empresas, em atendimento aos acionistas, buscam o maior lucro possível no menor espaço de tempo”. Segundo a advogada, “Zaffaroni demonstra que essa é uma lógica perversa e prevalecente no capitalismo, que estimula a falta de escrúpulos e diminui as possibilidades de negociação entre as forças do capital e do trabalho”.
Professor emérito do Departamento de Direito Penal da Universidade Nacional de Buenos Aires, vice-presidente da Associação Internacional de Direito Penal e ex-ministro da Suprema Corte Argentina, Eugenio Raúl Zaffaroni afirmou: “O totalitarismo financeiro está destruindo o Estado e degradando o bem-estar social, situação ideal para os projetos colonialistas”. O jurista ressaltou a necessidade de aprofundamento dos estudos da Criminologia para a contenção do poder punitivo: “Construímos sistemas e promovemos a interpretação das leis, porque pensamos que isso é útil para a jurisdição, para o exercício da magistratura, o Ministério Público e todos os demais operadores do sistema penal”.
O juiz argentino, porém, apontou limites para essas ações: “O capitalismo avançou muito e hoje o poder está nas mãos das grandes corporações, que promovem o totalitarismo financeiro e endividam os países mais fracos, para obter grandes lucros com a cobrança de juros altos, o que resulta na redução de verbas para os investimentos sociais e no aumento das desigualdades”. Zaffaroni concluiu o seu raciocínio, afirmando: “A nossa tarefa é tentar conter o poder punitivo, mas muitas ações desembocam numa rua sem saída, já que a solução está nas mãos dos povos, que têm que ser os donos das praças, como o céu é do condor”.
Coragem – Sobre o novo livro de Juarez Tavares, falou Ana Elisa Bechara: “Num mundo cada vez mais marcado pela intolerância, é importante ressaltar não somente a qualidade das obras dos dois autores, mas principalmente a coragem deles de defender os seus pontos de vista humanitários e voltados para uma ciência responsável”. A professora destacou que “a pena é um ato de violência política do Estado, como muito bem ressalta o professor Juarez Tavares na sua obra, que promove a reflexão sobre se é possível uma sociedade sem crimes e sem penas”. Ana Elisa Bechara também mencionou que “o autor, com muito acerto, afirma que é ingênuo acreditar na racionalidade de um poder que pretende acabar com a violência mediante o emprego da violência”.
Juarez Tavares é professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e professor visitante da Universidade de Frankfurt, na Alemanha. Por 39 anos, foi membro do Ministério Público Federal, tendo ocupado o cargo de subprocurador-geral da República. O jurista revelou que foi estimulado a escrever o livro pelo juiz Rubens Casara, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), que também participou do Saindo do Prelo. Tavares, que traduziu a nova obra de Zaffaroni, comentou: “Os nossos livros têm a perspectiva de não colaborar com o poder punitivo”.
A respeito do trabalho que ele e Zaffaroni realizam, Juarez Tavares explicou: “Para tentar conter o poder punitivo, procuramos elaborar posições críticas fora da dogmática penal, para que as pessoas vejam como, na verdade, o poder punitivo tem influência na vida de todos nós, embora atinja os indivíduos de forma diferente”. Ele exemplificou essa diferença, dizendo que a proteção à vida é desigual, dependendo das condições econômicas das pessoas.
O professor mexicano Fernando Tenório Tagle também comentou o novo livro de Zaffaroni: “A obra demonstra que, após 500 anos de experiência colonial na América Latina, as corporações continuam mandando e os políticos obedecendo, com graves consequências sociais”. O encerramento do webinar foi feito pelo 3º vice-presidente do IAB, Carlos Eduardo Machado: “Foi um evento belíssimo e de enorme importância para todos nós, penalistas, que fomos moldados estudando os dois autores, como também o professor Juarez Cirino dos Santos, que está presente”.
Também participaram desta edição do Saindo do Prelo o 2º vice-presidente, Sydney Sanches, que elogiou “a brilhante atuação dos juristas mundiais”; o presidente da Comissão de Direito Penal, Marcio Barandier, para quem “foi um dia histórico para o IAB”; o ex-presidente e membro do Conselho Superior do IAB Fernando Fragoso; os desembargadores Paulo Baldez, do TJRJ, e Marcelo Semer, do TJSP; e o presidente da Sociedade dos Advogados Criminais do Estado do Rio de Janeiro (Sacerj), João Carlos Castellar, além de diversos consócios.
OS MEMBROS DO IAB ATUAM EM DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. FILIE-SE!