"Qualquer brasileiro com o mínimo de consciência tem vontade de chorar com o fechamento de um veículo que, após mais de 180 anos de existência, paralisa as suas rotativas e sai de cena." A afirmação emocionada foi feita pelo presidente nacional do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Técio Lins e Silva, na homenagem prestada ao Jornal do Commercio na sessão ordinária desta quarta-feira (4/5). Na derradeira edição do impresso, levada às bancas na sexta-feira, 29 de abril, Técio Lins e Silva dedicou às "trajetórias quase bicentenárias" do veículo e do IAB a última coluna do Instituto, que ocupava semanalmente o espaço cedido pelo diretor-presidente, Maurício Dinepi.
No artigo intitulado "O IAB e o Jornal do Commercio", Técio Lins e Silva, ao traçar um paralelo entre as duas instituições, ressaltou que "a entidade jurídica e o jornal mais antigos da América Latina se notabilizaram como instituições que prestaram relevantes e inestimáveis contribuições para o desenvolvimento político, econômico, jurídico e cultural do País". A coluna foi ilustrada com a reprodução fotográfica da placa de bronze, totalmente recuperada e recolocada no Plenário Histórico, comemorativa ao centenário do IAB, festejado em 1943, em que o jornal está citado.
Em sua homenagem pública ao veículo, Técio escreveu também que "tornou-se impossível falar da História do Brasil sem folhear os arquivos das mais remotas edições do Jornal do Commercio e sem se debruçar sobre os livros de atas que registram as memoráveis decisões tomadas nas sessões ordinárias do IAB". Ele registrou, ainda, que "nas páginas do prestigioso periódico, o Instituto sempre esteve presente: em reportagens sobre os seus brilhantes pareceres jurídicos, em artigos assinados por renomadíssimos juristas, dentre os quais Rui Barbosa, que presidiu o IAB no biênio 1914/1916, e nas colunas semanais publicadas, regularmente, às segundas-feiras".
Liberdade de pensamento - Na sessão ordinária, o presidente nacional do IAB comunicou aos consócios que Maurício Dinepi lhe enviou mensagem agradecendo a deferência ao Jornal do Commercio na coluna de 29 de abril e informando que "todos nós ficamos emocionadíssimos com a homenagem". Técio disse ainda que o fechamento do periódico, "onde o IAB se manifestava com a mais absoluta autonomia, sem qualquer tipo de interferência, representa menos um jornal para o exercício do pensamento e da liberdade de imprensa no País".
Da tribuna do plenário, vários oradores se manifestaram. O 3º vice-presidente, Sergio Tostes, disse que "é lamentável que o Jornal do Commercio, sempre aberto aos grandes juristas do País, tenha fechado as suas portas". O diretor de biblioteca, Aurélio Wander Bastos, parabenizou o presidente do IAB pelo "belíssimo e exemplar artigo sobre a convivência harmônica entre as duas instituições" e enfatizou a importância da iniciativa do jornalista Vítor Zappi, criador da editoria Direito e Justiça no veículo.
Visivelmente emocionado, o diretor adjunto Carlos Roberto Schlesinger registrou que sua mãe, a jornalista Flora Machman, trabalhou no jornal por quase 20 anos, a partir do final da década de 1940, como responsável pela coluna diária Registro. "Frequentei na minha infância a redação do Jornal do Commercio, na Rua Sacadura Cabral, no Centro do Rio", revelou Schlesinger. "Sinto muito pela morte de um jornal que faz parte da História do Brasil", concluiu.
OS MEMBROS DO IAB ATUAM EM DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. FILIE-SE!