Para compreender a realidade da vivência dos PCD’s nos ambientes educacionais, com recorte no ensino virtual, Luiz Claudio Gonçalves pesquisou o contexto histórico e a realidade brasileira quanto ao tema. O resultado da empreitada está publicado no livro A pessoa com deficiência visual na educação a distância, sobre o qual ele falou na sua palestra. No Brasil, de acordo com ele, o ensino voltado às pessoas com deficiência teve seus passos iniciais com a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos (1854) e do Imperial Instituto de Surdos-Mudos (1857). “Eles foram os primeiros a criar metodologias para esse público e a partir disso surgiram as primeiras propostas pedagógicas direcionadas”, contou.
Ao comentar o preconceito enfrentado pelos PCD’s, o advogado apontou que a segregação no âmbito linguístico tem traços contemporâneos. “Fiz um levantamento histórico e tive dificuldade para compreender como surgiram certos estigmas. Nas sociedades primitivas, por exemplo, a palavra ‘deficiência’ não existia”, disse Gonçalves. Ele comentou que a expressão usada na época era “pessoa com comprometimento”. Para o pesquisador, isso demonstra que a exclusão social foi um processo histórico: “Falamos em inclusão justamente porque essas pessoas foram em algum momento excluídas”.
Na abertura do evento, o presidente nacional do IAB, Sydney Limeira Sanches, ressaltou que a entidade tem buscado se tornar mais inclusiva, adotando práticas cotidianas e institucionais para promover equidade a todos. “Temos nos esforçado para melhorar e essa é uma preocupação que tem destaque na nossa agenda. Buscamos sempre encontrar soluções para integrar com a excelência necessária todos os profissionais, inclusive os com deficiência”, afirmou ele.
Diretora de Educação e Assuntos Universitários e presidente da Comissão de Educação e Relações Universitárias do IAB, Benizete Ramos de Medeiros lembrou que a discussão tem especial importância para os profissionais da educação: “Esperamos que o nosso debate gere conteúdo de valor para professores e instituições de ensino que trabalham com a educação à distância e precisam garantir a inclusão das pessoas com deficiência visual e auditiva”.
No evento, os convidados também tiveram a oportunidade de ouvir a experiência da professora e pesquisadora Caroline Vargas, que tem autismo, TDAH e perdeu a visão de um olho em decorrência de complicações de uma esclerose múltipla. Inserida pela primeira vez no contexto da deficiência, ela percebeu que o mundo se apresentava de uma forma diferente. “Eu achava que era uma pessoa que foi construída desde a educação básica sem nenhuma discriminação. Mas, na verdade, a discriminação é tão interna que nem conseguimos perceber”, relatou.
Mergulhando nesse universo, ela avaliou a realidade brasileira e constatou que até os anos 1990 a maioria das crianças com deficiência tinha dificuldades para entrar no ensino formal. “Hoje, percebo que na escola e na faculdade não convivi com ninguém com características assim. No entanto, podemos celebrar o fato de que atualmente existem cadeiras com pedais para que alunos hiperativos gastem sua energia enquanto assistem à aula, por exemplo. Isso mostra que com pequenas adaptações podemos chegar lá”, enfatizou a professora.
Mediador do debate, Carlos José Pacheco, que também é membro da Comissão de Educação e Relações Universitária do IAB, lembrou que a legislação brasileira tem se ocupado da inclusão dos PCD’s. Ele usou como exemplo a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York em 2007. “Foi o primeiro tratado internacional sobre direitos humanos capitaneado pela ordem jurídica brasileira com envergadura constitucional. Isso demonstra que a questão da pessoa com deficiência, em sentido amplo, faz parte de um projeto de Estado”, completou.