No início do seu discurso, Aristóteles Atheniense falou da influência do pai na sua formação. “Na adolescência, ouvia meu pai, que foi advogado, promotor e magistrado, afirmar que o ministério da advocacia é o ofício mais livre que alguém poderá escolher. Quem o eleger, por mais que lute e labute, por maior que seja a sua dedicação, contará com resultado que depende, em última instância, da contingência da prova e do critério falível dos juízes”, relembrou.
Ele, contudo, ressaltou que o advogado não deve aceitar passivamente toda e qualquer decisão. “Se a sentença impugnada for realmente douta, então será devida uma palavra de apreço ao seu prolator. Mas, se insustentável em face da lei ou da prova, não será recomendável que lhe sejam tecidos elogios que possam soar a hipocrisia, chaleirismo ou a descabida reverência”, afirmou.
Combate à devassidão – Na defesa da advocacia, Aristóteles Atheniense falou da importância do direito para a democracia. “A cultura do Direito contribui para que seja consolidada a ordem moral. Reclama o combate à devassidão em prol da paz jurídica, em que os órgãos de expressão nacional adquirem a plenitude de suas funções e de sua vitalidade”, afirmou. Ao mesmo tempo, o patrono alertou que a ética não pode estar restrita ao âmbito profissional. “O dever geral de probidade não se refere somente à atuação cumprida no processo, mas, igualmente, ao comportamento do profissional na família e na sociedade”, disse.
Atheniense destacou que não pode haver conflito entre o que advogado defende nos tribunais e a sua vida como cidadão. “Tomados dessa consciência, impende reconhecer e proclamar que a exigência da conduta privada está arraigada à própria natureza da advocacia. O seu patrocínio ficará irremediavelmente ferido se a vida particular do advogado estiver em contradição com os valores que ele defende nos pretórios”, alertou.
Em certa altura da sua exposição, o octogenário membro do Conselho Superior do IAB fez uso de sua experiência profissional de quase 60 anos para orientar os jovens advogados presentes no evento. “Numa fase da sociedade, como a atual, em que qualquer pessoa encara a profissão sob a ótica da rentabilidade, não é estranhável que o advogado procure lucro fácil e relegue a segundo plano o próprio interesse jurídico e social da causa que patrocina”, reconheceu.
Advogados cúmplices – Atheniense, porém, criticou duramente a falta de limites na busca pelo êxito profissional. “A preocupação em enriquecer concorre para que alguns advogados tornem-se cúmplices de seus clientes em ações criminosas. Quem assim procede não faz jus às prerrogativas que o Estatuto lhe assegura, pois, qualquer ação que extrapole o limite de empenho na causa desbordará da razão e tornará o advogado conivente de seu constituinte”, sentenciou.
Ao mesmo tempo, manifestou seu otimismo com o exercício da profissão. “Estou convencido de que o futuro não dispensará a existência da advocacia. O modo de ser do advogado será sempre ditado mais pela vocação do que, propriamente, pela profissão que elegeu”, afirmou.
Aristóteles Atheniense concede entrevista após o seu discurso na conferência
O patrono da advocacia mineira encerrou o seu discurso ressaltando a sua paixão pela profissão. “Estou certo de que os melhores momentos da minha vida foram aqueles em que pude servir, sentindo-me anonimamente útil, limitando os meus desejos sem preocupar-me em satisfazê-los avidamente”. E acrescentou: “Não há exagero em afirmar que, no curso dessa existência, fiz o que não me foi pesado, ao ponto de divertir-me com o trabalho, que, assim, tornou-se mais leve”.
Leia aqui a íntegra do discurso de Aristóteles Atheniense
OS MEMBROS DO IAB ATUAM EM DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. FILIE-SE!