“Diante dos sofisticados recursos tecnológicos necessários à participação nas audiências por meio de videoconferências, que estão sendo realizadas em razão do isolamento social imposto pela pandemia, a maioria dos advogados, que não possui escritórios, nem mesmo recursos para investir em computadores e celulares, acabará afastada do mercado de trabalho.” O alerta foi feito pela presidente nacional do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Rita Cortez, nesta terça-feira (16/6), ao participar de uma live no Instagram, a convite do advogado Marcelo Cruz, ex-presidente da Associação Fluminense dos Advogados Trabalhistas (Afat). O tema da conversa foi ‘Advocacia – unidade na adversidade’.
De acordo com Rita Cortez, as entidades representativas da classe precisam se unir para ajudar a parcela expressiva da advocacia que enfrenta as “adversidades” causadas pelas dificuldades para atuar nos procedimentos virtuais. A advogada trabalhista apontou também os efeitos da nova realidade no atendimento à população. “A atuação do advogado é fundamental para garantir o acesso à justiça e a prestação jurisdicional, sobretudo às partes, especialmente na área trabalhista, que também não dispõem de recursos para participar de videoconferências”, afirmou.
Marcelo Cruz disse que o afastamento de advogados da atividade profissional começou com a implantação do Processo Judicial Eletrônico (PJe). Ele citou o quadro atual no Rio de Janeiro. “Hoje, entre 60% e 70% da advocacia fluminense utilizam as salas da OAB em todo o estado para exercer a profissão, por não ter sequer computadores e celulares modernos, muito menos escritórios”, informou. Além da dificuldade financeira, disse o ex-presidente da Afat, os advogados não dispõem de linhas de crédito para realizar qualquer tipo de investimento.
A presidente nacional do IAB comentou também sobre a situação atual do País. “Não temos políticas públicas, nem sanitária, nem econômica”, criticou. A advogada defendeu a volta dos movimentos sociais. “O Brasil tem um histórico de grandes movimentos, como os que lutaram contra a ditadura militar e defenderam a realização das Diretas Já e da Assembleia Nacional Constituinte”, destacou. A respeito do papel do IAB no contexto atual, Rita Cortez ressaltou que “o Instituto, que foi decisivo para a formação do País e da advocacia brasileira, vem manifestando as suas posições críticas e oferecendo a sua contribuição jurídica para os grandes temas de interesse nacional”.
FONTE: Rota Jurídica - 17/06/2020