Depois de ter dito ontem que o advogado Fernando Santa Cruz - pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, havia sido morto por integrantes da Ação Popular (AP), e não pelas Forças Armadas durante a ditadura - Jair Bolsonaro comentou nesta terça-feira que vai respeitar a Lei da Anistia de 1979 e não pretende "mexer no passado". Mas, perguntado se vai contestar a versão oficial da Comissão Nacional da Verdade (CNV) sobre a morte, Bolsonaro questionou o trabalho realizado pelo grupo.
"Você acredita em Comissão da Verdade? Foram sete pessoas indicadas pela Dilma. Não é contestar. Se gastou mais de R$ 5 bilhões, dinheiro público do povo que trabalha para dar para quem nunca trabalhou. Você acha justo que a gente tem que continuar? Eu não pretendo mexer no passado, eu pretendo respeitar a Lei da Anistia de 79", disse.
Ontem à noite, em nota assinada por sua presidente, Rita Cortez, o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) "repudia veementemente a manifestação do presidente Jair Bolsonaro de um possível conhecimento sobre o lamentável episódio. O desaparecimento, tortura e morte de inúmeros brasileiros no período da ditadura militar são atos da maior gravidade. Foram repelidos nacional e internacionalmente, constituindo uma das páginas mais vergonhosas da nossa história."
Segue dizendo que "além da postura incompatível com o exercício do cargo de chefe de Estado, o presidente da República vem a público dizer que supõe ter conhecimento de fatos criminosos ocorridos, o que está por merecer esclarecimentos ao Ministério Público Federal que não pode, em nome do estado de direito, ignorar tal pronunciamento. São evidentes os ataques desferidos pelo presidente contra a advocacia, bem como suas tentativas de enfraquecer a atuação firme da OAB diante do frequente desrespeito da ordem constitucional. Ainda que o presidente da República insista em alimentar a violência e ignorar os princípios republicanos de observância dos direitos da pessoa humana, desdenhando das atrocidades cometidas por conta da política fascista de segurança nacional perpetrada na ditadura militar, é inaceitável a agressão de índole pessoal ao presidente da OAB. A perda do pai em circunstâncias até hoje obscuras - mas que o presidente da República diz conhecer - deveria ser objeto de manifestação de respeito ao ser humano, ao cidadão Felipe Santa Cruz."
E encerra dizendo que "não só a advocacia, mas toda a sociedade brasileira que tanto lutou pelo restabelecimento da democracia, não pode ficar apática aos acontecimentos recentes. Não é mais um discurso retórico. É a mesma postura de total desprezo aos direitos da pessoa humana."
Com informações da Agência Brasil