Com cerca de 20 anos de estudos sobre a obra de Gama, o especialista afirmou que as várias qualidades reunidas pelo advogado, em especial o conhecimento político e normativo, eram postas a serviço dos necessitados e da sociedade. “Ele trabalhava pela República e por um ideal radical de Direito em que todos seriam iguais não só perante a lei, mas em concretização e afirmação de direitos”, disse Lima.
Conduzindo a abertura do webinar, o presidente nacional do IAB, Sydney Limeira Sanches, ressaltou que Luiz Gama é um dos patronos da entidade, visto que seus ideais antirracistas se confundem com os princípios defendidos pelo Instituto. “Ele tem um papel de protagonismo no IAB pela sua representação nesse posicionamento firme de defesa dos direitos humanos e combate a todas as ações de natureza racista que violam a dignidade da pessoa humana”, afirmou Sanches. Ele também destacou que o Instituto tem uma comenda que leva o nome do homenageado. Desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a Medalha Luiz Gama é oferecida àqueles que são comprometidos com a defesa dos direitos humanos.
Da esq. para a dir., Oscar Argollo, Déo Garcez, Humberto Adami, Bruno Rodrigues de Lima e Lousada Câmara
Também participaram do evento o presidente da Comissão de Igualdade Racial do IAB e da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra da OAB/RJ, Humberto Adami, a diretora secretária de Diversidade e Representação Racial do IAB, Edmée da Conceição Cardoso, o ex-presidente da OAB/RJ, Oscar Argollo, o advogado homenageado pelo IAB com a Medalha Levi Carneiro Lousada Câmara e o ator Déo Garcez, que interpretou Luiz Gama na peça de teatro Uma voz pela liberdade.
O livro, que tem prefácio escrito pelo membro benemérito do IAB e ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio de Almeida, é fruto da tese de doutorado de Bruno de Lima. A pesquisa, realizada na Universidade de Frankfurt, na Alemanha, venceu o prêmio Walter Kolb de melhor tese da instituição acadêmica. Lima destacou que seu estudo é o primeiro, a nível de doutoramento, a se debruçar sobre a contribuição jurídica de Luiz Gama. “Depois de recolher mais de mil textos dele, o que me permitiu organizar sua obra completa em 11 volumes, percebi que mais de 90% desse material é desconhecido pela comunidade científica”, contou o autor.
Humberto Adami destacou que o lançamento do livro se soma às diversas ações promovidas pelo IAB na intenção de reconhecer a atuação de Luiz Gama: “O Instituto e a Comissão de Igualdade Racial estão focados na reparação da escravidão, que não trata apenas de questões pecuniárias, mas também de memória e recuperação de histórias, lendas, prédios, personagens, heróis e heroínas que foram esquecidos pela história do Brasil”.
Já Edmée Cardoso ressaltou que o livro lançado pelo especialista deve ser lido por todos. “Bruno nos presenteia com uma obra inédita sobre Luiz Gama, que tem uma trajetória antiga, mas que se torna atual porque até hoje vivemos problemas discutidos por ele, que seguem sem resposta”, disse a advogada.
O livro também foi elogiado por Déo Garcez, que ressaltou a importância do autor na divulgação de informações inéditas e precisas sobre o advogado abolicionista. “Existem frases do Luiz Gama escritas por historiadores que o próprio Bruno corrige e orienta, pontuando a ausência de determinadas falas”, comentou o ator.
Durante o evento, Sydney Sanches lembrou que Humberto Adami sofreu ataques virtuais após comentar a fala do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que reconheceu a culpa do país pela escravidão no Brasil e sugeriu medidas de reparação. “Ele foi alvo de uma bateria de agressões racistas de haters escondidos na suposta inviolabilidade que a internet proporciona. Adami manteve seu discurso presente, potente e deu entrevistas em Portugal por conta da declaração do presidente português e se manteve firme no posicionamento com o IAB para a defesa do povo preto e no combate a todas as práticas racistas”, destacou o presidente do Instituto.