Durante o painel Os paradoxos e dilemas da América Latina para projetos de infraestrutura e desenvolvimento, Merino destacou ainda que os países latino-americanos têm que lidar com a falta de autonomia financeira: “O comércio interno do Mercosul está ligado com o comércio exterior de matérias-primas – e isso é um problema de dependência. Portanto, quando há queda nos preços das matérias-primas, o comércio inter-regional também sofre”. De acordo com o palestrante, há um problema fundamental a ser superado: “Temos um bloco comercial, como o Mercosul, que tem 14% de comércio inter-regional. Um bloco comercial forte precisa de 30%”.
Jorge Folena
Também participaram do debate o professor do Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam/USP) Wagner Iglecias e o doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj) e secretário-geral do IAB, Jorge Folena, que mediou a mesa. Folena frisou que a discussão sobre as infraestruturas nacionais é central para os países em desenvolvimento, como os latino-americanos e africanos. “No nosso caso em particular, o desafio é a superação do colonialismo europeu, que ainda não vencemos, e principalmente do imperialismo americano. Eles é que criam todas as dificuldades para que nós não possamos concluir o princípio constitucional de termos a nossa efetiva independência”, disse o mediador.
Wagner Iglecias
Wagner Iglecias endossou a ideia de que a integração regional é um fator fundamental para a consolidação da independência dos países da América Latina. “Juntos podemos negociar melhores condições de intercâmbio comercial, de transferência de tecnologia, de investimentos e de exploração dos recursos naturais e estratégicos, e também negociar em melhores condições com as potências do mundo”, afirmou o professor. Iglecias destacou que a união dos países latino-americanos é uma tarefa inconclusa e que de tempos em tempos é retomada por governos da região. “A integração regional no século XXI é uma iniciativa extremamente ampla e complexa. Os nossos estados nacionais latino-americanos não têm recursos para bancar sozinhos o projeto de integração regional desse ponto de vista da infraestrutura e da logística”, avaliou.
O professor lembrou que esses países têm outras prioridades, como a necessidade de atender demandas básicas da população, como a garantia de qualidade nos serviços de saúde, educação e habitação, por exemplo. “Mesmo que tivéssemos recursos para investir apenas em infraestrutura, nós teríamos que redirecionar esses recursos para outras áreas também fundamentais para a promoção do bem-estar social do nosso povo”, disse Iglecias.