Na visão de Sant’Anna, o crescimento econômico do País também deve estar entre as estratégias para a integração do Brasil com seus principais parceiros internacionais. “Sabemos que há uma necessidade muito maior de se estabelecerem algumas diretrizes por parte do Estado brasileiro, no sentido de retomar o processo de desenvolvimento. Isso não interessa só a nós. Também interessa à América Latina que nós tenhamos uma visão mais introspectiva do nosso papel na geopolítica internacional”, sublinhou o palestrante durante a apresentação do painel As perspectivas da integração regional com o multilateralismo e a ascensão dos Brics, que também teve palestra do coordenador da graduação de Relações Internacionais da UFF, Fernando Almeida, com mediação do doutor em Integração na América Latina pela Universidade de São Paulo (USP)/Prolam Antonio Walber Muniz.

Walber Muniz

Na abertura do webinar, o 1º vice-presidente do IAB, Carlos Eduardo Machado, destacou a relevância do debate para a posição que o País ocupa no cenário mundial: “Estamos voltando com a participação do Brasil na ordem internacional, uma participação regular, voltando à normalidade, buscando canais importantes de comunicação com os nossos vizinhos e com os países que compõem o Brics”. Por outro lado, Fernando Almeida lembrou que existem desafios históricos que envolvem a integração do Brasil com os demais países latino-americanos. “Na América Latina, países de fala hispânica, pela fragmentação política que viveram, pensam há muito tempo na integração regional. Já o Brasil é a antiga América portuguesa. Ele continuou coeso e sempre teve dificuldades de integração com os vizinhos de fala hispânica”, acrescentou o professor. 

Carlos Eduardo Machado

Para Almeida, são nações muito diferentes que ainda lidam com o problema de que seus monopólios econômicos estão no exterior: “O controle das economias desses países não é feito dentro deles, normalmente as grandes empresas estão localizadas no hemisfério Norte. São elas que fazem o planejamento estratégico que nós não conhecemos”. De acordo com palestrante, para que se progrida no tema, é preciso que haja um Estado forte, capaz de oferecer planejamento na questão. “No Brasil, somos expoentes em indústria em vários setores. Por exemplo, somos os maiores produtores de automóveis do mundo e não temos nenhuma fábrica brasileira, são todas estrangeiras, localizadas aqui”, completou.

Brics – Durante a apresentação do painel Os Brics e a nova ordem internacional para uma perspectiva Sul-Sul, a doutora em Engenharia de Produção pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) Glória Maria Moraes da Costa destacou as mudanças recentes no Brics, que terá adesão de mais seis novos países. A decisão foi oficializada na 15ª Cúpula dos Líderes dos Brics, realizada em agosto em Joanesburgo, na África do Sul. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passarão a compor o bloco Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã. “Em nível geral, todos os países têm reserva de petróleo e questões imediatas que reforçam a questão de política de governo e de Estado”, disse Costa.

A professora também sublinhou a importância que o grupo representa no cenário da geopolítica mundial: “Os países do Brics abarcam 41% da população mundial, agregando mais de três bilhões de pessoas, quando a população mundial é estimada em quase oito bilhões”. Sem contar com os seis novos estados que farão parte do grupo, o agregado de PIBs do Brics atinge mais de 26 trilhões de dólares. “Em termos econômicos, os países colaboram com 26% de toda riqueza gerada do mundo”, pontuou.

Costa também destacou a necessidade de se debater a posição brasileira na nova formação do grupo. “Nós somos favorecidos pela ampliação? Há outras formas de participação? Embora eles entrem a partir de 2024, como está previsto, nós temos que discutir as questões reais. Nós, da América do Sul, a Índia, a China e principalmente a África, vivemos padrões de desenvolvimento inaceitáveis para o século XXI”, disse a professora. A doutora em Ciência Política e Relações Internacionais pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj) Elian Araújo, que mediou o painel, afirmou que as discussões sobre o cenário político atual reafirmam o compromisso do IAB com o desenvolvimento da América Latina: “As comissões, não só a de Direito Constitucional e a de Direito da Integração, vêm atualizando as suas agendas e os temas que vêm sendo debatidos aqui”.