Segundo Rubens Ricupero, “a efeméride cai em um momento muito ingrato da história do País”. Se fosse em 2010, acrescentou, seria diferente: “O Brasil cresceu naquele ano 7,6%, havia a impressão, dentro e fora do País, de que o Brasil tinha dado certo”. Também participaram do evento, o presidente nacional do IAB, Sydney Sanches, que fez a abertura, o diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida; o diplomata e vice-presidente da Comissão de Direito Internacional do IAB, Paulo Fernando Pinheiro Machado; o diplomata aposentado e diretor do Centro de História e Documentação Diplomática, da Fundação Alexandre de Gusmão, Gelson Fonseca Jr, e o professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do CNPq Francisco Doratioto.
O ex-ministro indagou: “Será que tudo aquilo era falso?”. Ele crê que não, que a maioria dos fatos era verdadeira, mas que não se sustentaram. “O passado nós não podemos corrigir, ele está aí e, portanto, o que se pode fazer no caso do passado é dar um balanço, evidentemente, equilibrado. É preciso ter em mente que nosso destino não está escrito nas estrelas. O futuro, como o presente, depende de nós mesmos. Ele será aquilo que nós fizermos. Não há como se eximir dessa responsabilidade”, refletiu.
Construtores – O professor Paulo Roberto de Almeida falou sobre Bicentenário da Independência: os fundadores do Estado e ressaltou o papel da princesa Leopoldina, que presidiu uma reunião do Conselho de Estado em 2 de setembro de 1822 e sancionou a deliberação do grupo de que deveria ser proclamada a independência do Brasil. E também citou, como “construtores do Estado”, José da Silva Lisboa, Hipólito da Costa e José Bonifácio de Andrada e Silva.
O diplomata Paulo Fernando Pinheiro Machado apontou uma especificidade do Brasil, onde “a independência e a Nação surgiram antes da construção do Estado”, e o que ficou por fazer: “a construção e inclusão do povo brasileiro”. Ele também falou sobre a construção e a manutenção da unidade do País. Sobre o tema de sua palestra – O papel do visconde do Uruguai na formação do Estado e da política externa brasileira –, ele explicou que Paulino José Soares de Souza, o visconde do Uruguai, senador do Império e ministro de Estado da Justiça e dos Negócios Estrangeiros, foi responsável pelas doutrinas e posicionamentos que balizaram a atuação externa do Brasil no momento crucial da formação do Estado brasileiro.
Para o professor Gelson Fonseca Jr., a primeira maneira como se pensou a independência foi em manter as boas coisas do Império. “O que o Império não tinha era povo”, afirmou. Segundo ele, “não houve um pensador que idealizasse esse país independente”. Entre as estratégias necessárias para a garantia de um futuro mais democrático e menos desigual para o Brasil, disse o professor, estão “o abandono do populismo e da irresponsabilidade fiscal”.
Ao comentar as manifestações dos palestrantes, o pesquisador Francisco Doratioto afirmou que “a independência é um processo histórico, que começa antes de 1822, mas não termina em 1822; a independência, no sentido de soberania, é construída todo dia”. Em termos de datas-chaves, o pesquisador citou também 1831, quando D. Pedro I foi obrigado a abdicar do trono e “os brasileiros passaram a governar o Brasil”.