"É muito importante esse trabalho de resgate da memória, sobretudo por ser no Rio de Janeiro. A responsabilidade da seccional do Rio e a quantidade de documentação aqui depositada são fundamentais para restabelecer essa memória dentro da sua verdadeira amplitude. A OAB terá sempre o Instituto como grande parceiro neste resgate histórico, inclusive com acesso à documentação que temos disponível", disse Sydney Sanches.
Da esq. para a dir., Sydney Sanches, Aurélio Wander Bastos e Aderson Bussinger Carvalho (Fotos de Bruno Mirandella / OAB/RJ)
O assessor técnico do Centro de Documentação e Pesquisa, jornalista Marcelo Moutinho, apresentou um pequeno vídeo com depoimentos históricos de advogados e advogadas que marcaram a advocacia brasileira, de Sobral Pinto a Heleno Fragoso, passando por Evandro Lins e Silva, Zelia Velman, Modesto da Silveira, Geraldo Beyruth e Cármen Lúcia, atual ministra do Supremo Tribunal Federal, entre outras personalidades.
"Esse acervo é ouro puro e não poderia ficar fechado aqui dentro da OAB/RJ. Quando falamos em memória, normalmente se pensa em algo antigo, mas a memória fala para o presente e o futuro. A ideia é levar todo esse material, de enorme importância, para fora da OAB/RJ, com diferentes publicações em diferentes formatos", explicou Marcelo Moutinho, revelando que a seccional pretende lançar uma série de documentários a serem exibidos nos canais oficiais da seccional.
Da esq. para a dir., Sydney Sanches, Aurélio Wander Bastos, Aderson Bussinger Carvalho, Bernardo Cabral, Carlos Alberto Direito, Marcelo Moutinho e Marcus Vinícius Cordeiro
Durante sua palestra, o professor titular emérito da Unirio e doutor em Ciências Políticas e Sociologia Aurélio Wander Bastos falou sobre a trajetória da Ordem e suas muitas lutas na defesa do estado democrático de direito ao longo da história do País. "Em 1981 e 1982, época da criação do Centro de Pesquisa da Ordem, eu me perguntava como os advogados poderiam atuar no processo de transformação social e formulei uma frase que dizia: 'mudança da ordem através da Ordem'. Isso significa que precisamos ter instrumentos jurídicos que permitam modificar a ordem e nos permitam alcançar um processo de mudança social significativo", afirmou o professor.
O ex-presidente da OAB, ex-ministro da Justiça e ex-senador Bernardo Cabral, relator da Constituição de 1988 – que foi efusivamente reverenciado pelos presentes – falou sobre o papel da Ordem nos grandes momentos da política brasileira: "Só existem cinco relatores na história da Assembleia Nacional Constituinte, e eu fui um deles. Também fui ministro da Justiça, mas o que mais me orgulhou, e eu sempre digo isso, foi ter presidido o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Se nada eu tivesse feito como relator da nossa Constituição, o artigo 133 define o que eu queria colocar no texto: 'o advogado é indispensável à administração da Justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei''.
De acordo com Bernardo Cabral, nenhuma Constituição do mundo tem uma referência institucional ao advogado. Ele explicou: "No momento do meu parecer, o senador Roberto Campos, um homem brilhante, foi à tribuna e afirmou que eu teria colocado os advogados no texto constitucional para reservar mercado de trabalho para meus colegas. 'Por que não colocou médicos ou engenheiros?', ele perguntava antes de encerrar o discurso bastante ovacionado. Pedi a ele que não descesse da tribuna, e perguntei se algum médico ou engenheiro na assembleia havia sido preso ou reprimido pelo Estado, como foram Heleno Fragoso, George Tavares e Augusto Sussekind de Moraes Rego na defesa de seus clientes. Houve um silêncio sepulcral e eu disse que não se tratava de reserva de mercado, mas de uma garantia de liberdade de todos. O que dignifica a vida de todo cidadão é a liberdade garantida pela advocacia".
Além de Sydney Sanches, foram homenageados ainda os ex-diretores do CDP Nilo Batista, Leila de Andrade Linhares Barsted, Maria Guadalupe Piragibe da Fonseca, Eliane Junqueira, Rosangela Lunardelli Cavallazzi e a funcionária Maria Antônia da Conceição Silva, o advogado Fernando Fernandes e a Associação Fluminense de Advogados Trabalhistas (Afat).
Também participaram da cerimônia a vice-presidente da OAB/RJ, Ana Tereza Basílio; o diretor de Comunicação da OAB/RJ, Marcus Vinícius Cordeiro, e o presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da seccional, Carlos Alberto Direito.