Psicóticos ou perversos – Rubens Casara comentou que a lógica neoliberal, exclusivamente voltada para os lucros, foi interiorizada pela sociedade. ”Mais do que uma teoria econômica e um modo de governar, o neoliberalismo é a nova racionalidade hegemônica mundial, introjetada pelas empresas e, depois, pelos indivíduos, que aceitaram a busca ilimitada por lucros e vantagens pessoais e passaram também a desejar alcançá-los”, disse. De acordo com o juiz, os indivíduos estão se tornando psicóticos ou perversos. “O indivíduo psicótico é aquele que não enxerga limites às suas pretensões, enquanto o perverso, ao contrário do psicótico, tem a consciência da existência dos limites, como os morais e constitucionais, mas tem prazer em violá-los”, explicou.

Rubens Casara também criticou a perda de valores tradicionais que surgiram nas sociedades mais antigas: “Nos tempos atuais, em que há um vale-tudo na busca por lucros, o egoísmo, que sempre foi visto como um vício, derrotou a fraternidade e a solidariedade, pois os indivíduos só visam ao consumo e se relacionam somente para esse fim, tratando o outro muitas vezes como um mero concorrente”.
O juiz falou também sobre as ações neoliberais que se destinam a afastar barreiras que impeçam os elevados lucros. “É inegável que tudo aquilo que representa um obstáculo é combatido pelo neoliberalismo, o que explica o enfraquecimento do sindicalismo brasileiro e a redução de direitos e garantias fundamentais para que não haja diminuição das margens de lucros”, apontou. Ele destacou que “a democracia exige limites, pois, do contrário, o estado democrático de direito desaparece e surge o estado pós-democrático, que é o estado tomado pela racionalidade neoliberal”.
Impactante – Roberta Pedrinha opinou sobre a obra do magistrado: “O livro é impactante, ao alertar para o caráter de irreversibilidade que o neoliberalismo tenta impor às sociedades e a importância de que sejam resgatados princípios tradicionais e, cada vez mais, abandonados, como a fraternidade e a solidariedade”. Ainda de acordo com a professora de Criminologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), “Rubens Casara demonstra como o Brasil foi construído a partir da naturalização da escravidão e da desumanização da população, o que, como ele ressalta no livro, se reflete na população carcerária, que reúne negros em sua maioria, pois a desigualdade social também é racial”.
Para Laura Astrolabio, “o livro estimula as pessoas a pararem de olhar as outras pelo viés economicista, que é acompanhado da desvalorização do ser humano”. A especialista em Direto Público e mestranda de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NEPP-PPDH-UFRJ) concordou com a afirmação do autor, de que a racionalidade neoliberal está introjetada nas pessoas, e criticou: “A outra pessoa não pode ser vista somente como alguém que pode trazer alguma vantagem material ou se tornar uma ameaça ao seu lucro ou ao seu emprego”.