A embaixadora explicou que essas mulheres lideram projetos de educação, sustentabilidade, direitos humanos e divulgação de conteúdos audiovisuais sobre os efeitos das mudanças climáticas. Elas trabalham, sublinhou Busia, especialmente com mulheres e com pessoas de países em desenvolvimento, e devem servir de inspiração para o coletivo. “Essas ações representam um clima de esperança. Elas são importantes devido à sua fé na defesa coletiva da mudança e porque se concentram em encontrar um caminho para uma mudança radical no conceito de liderança em todo o mundo, para o bem do globo. E são as mulheres que estão liderando o caminho”, afirmou.
Da esq. para a dir., no alto, Margarida Pressburger e Luciane Trippia; embaixo, Sydney Sanches, Tiago Bicalho Lis Silva e Thales de Miranda
Na abertura do evento, o presidente nacional do IAB, Sydney Limeira Sanches, afirmou que o combate às desigualdades de gênero ganha cada vez mais destaque na entidade. “O tema da mulher é a centralidade do debate hoje, mas é fato que as questões envolvendo os direitos humanos, especialmente as de gênero, raça e de qualquer outra ação discriminatória, têm sido pauta permanente e preocupação do Instituto, a fim de que nós efetivamente alcancemos uma democracia solidária e social”, disse o advogado.
A presidente da Comissão Temporária do IAB de Estudos sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável/ONU, Valéria Tavares de Sant’Anna, explicou que com a criação do grupo, em 2019, o Instituto deu início a uma série de eventos que visam a traçar estratégias para um mundo melhor para as próximas gerações. Em sua terceira edição, o encontro foi definido pela advogada como uma oportunidade de pensar coletivamente soluções sobre o tema: “A pretensão é de não só ficarmos falando, mas pensando e observando alternativas para um mundo sustentável. A ideia do seminário é essa: ser uma oficina”.
Da esq. para a dir., Letícia Maria Lima, Abena Pokua Adompim Busia, Marcelo Vieira, Valéria Tavares de Sant’Anna, Raquel dos Santos Rangel e Adriana Amaral dos Santos
O evento também contou com falas da doutoranda da PUC/Rio (Universidade Humboldt/Alemanha) Letícia Maria Lima, do professor da PUC/Rio e líder do grupo de pesquisa Josué de Castro (CNPQ), Marcelo Vieira, e da membro do subcomitê de Prevenção à Tortura da Organização das Nações Unidas (ONU) entre 2011 e 2016 Margarida Pressburger. A mediação ficou a cargo de Valéria Sant’Anna, de Adriana Amaral dos Santos e de Tiago Bicalho Lins Silva, todos head managements do grupo Justice, Welfare and Economics 3/2024 - G20 Rio, que co-organizou o webinar.
Desigualdade de gênero – Segundo Letícia Maria Lima, que lançou em 2021 o livro Mulheres e (in)justiça climática no Antropoceno, o Sul global é o mais afetado pelos desastres climáticos e, dentro desse âmbito, as mulheres são a maior parte das vítimas. “Gênero e clima estão conectados em um eixo de opressão às mulheres, que são 70% das pessoas em situação de extrema pobreza. Pensando nos efeitos de eventos extremos em pessoas mais pobres, percebemos que as mulheres estão sendo mais impactadas”, disse ela.
A pesquisadora também destacou que as mulheres são as principais produtoras rurais de países em desenvolvimento, ocupando de 45% a 80% da cadeia de produção de alimentos. Ela pontuou que a perda de safras afeta esse grupo diretamente: “Quando eventos climáticos extremos ocorrem, sejam deslizamentos ou uma chuva excessiva, como aconteceu recentemente no Rio Grande do Sul, as mulheres também são as mais impactadas”. De acordo com Lima, esses pontos escancaram a necessidade de se debaterem as injustiças climáticas com recortes de gênero, classe e raça. “Se não falarmos desses cruzamentos, não faremos políticas públicas para os mais afetados", completou.
Os objetivos da agenda 2030 para tornar o mundo mais sustentável e justo, segundo Margarida Pressburger, ainda estão muito longe de serem alcançados. Ela lembrou que os desastres naturais, como as enchentes históricas do Rio Grande do Sul ocorridas em maio deste ano, são sinais da Terra para que a humanidade mude suas práticas. “Nós precisamos, principalmente agora que teremos o G-20, com as 19 maiores potências econômicas do mundo reunidas, que todos sejam conclamados a fazer alguma coisa pelo nosso planeta e pela nossa comunidade”, declarou Pressburger.
Insegurança alimentar – Com base em dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), Marcelo Vieira revelou que em dezembro de 2020, no meio da pandemia de Covid-19, 9% da população brasileira estavam passando fome: “Se esses dados forem comparados com os apresentados até 2018 pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fica claro o tamanho do dano. Em três anos, o número de pessoas com insegurança alimentar grave aumentou de 10 milhões para 19,1 milhões. Um aumento exponencial de quase 100%”.
De acordo com o professor, a fome é um “fenômeno social, histórico e com repercussões políticas”. Ele destacou que essa crise também deve ser vista à luz de um recorte de minorias, considerando, principalmente, os impactos desse cenário nas pessoas negras: “Cerca de 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem com restrição de alimentos. Nas residências comandadas por pessoas de cor preta ou parda, a segurança alimentar teve uma redução expressiva entre 2020 e 2022, passando de 41,5% para 35%”.
Também estiveram presentes no evento a presidente da Comissão do Pacto Global da OAB/PR, Luciane Trippia, a membro da Comissão Temporária de Estudos sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável/ONU Raquel dos Santos Rangel, o 2º vice-presidente da Comissão de Compliance e Governança, Thales Rezende Rodrigues de Miranda, e Clarice Fernandes, todos academic leaders do grupo Justice, Welfare and Economics 3/2024 - G20 Rio.