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Quarta, 05 Junho 2024 02:36

Impacto do neoliberalismo nas instituições públicas impede que ações em defesa de refugiados prosperem, diz pesquisador

Pedro Greco Pedro Greco

Na visão do professor substituto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Pedro Teixeira Pinos Greco, a neoliberalização das instituições governamentais tem impacto direto na manutenção de políticas públicas voltadas aos refugiados. Durante a palestra O direito à moradia dos grupos refugiados na cidade do Rio de Janeiro, que aconteceu no Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) nesta terça-feira (4/6), ele falou sobre o Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes da cidade (Crai-Rio). Segundo Greco, a instituição operava no limite de sua capacidade, o que demonstra o nível de demanda, mas ainda assim foi descontinuada. “Desde os anos 1990, pelo menos, o governo tem tentado trabalhar com uma lógica de Estado mínimo, o que nos traz a esse contexto”, afirmou.

 O Crai-Rio funcionou de janeiro até junho do ano passado e nasceu com o objetivo de oferecer suporte de assistência social, educação e desenvolvimento econômico para refugiados. No evento, que foi promovido como uma Homenagem aos estudos de Pedro Greco, o professor explicou que os refugiados na cidade do Rio, que são tema de sua pesquisa no doutorado realizado na UFRJ, tradicionalmente sofrem pela ausência de políticas públicas voltadas a eles. “Precisamos de uma cidade justa, que não seja meramente uma ‘cidade maravilhosa’ no papel. Ela precisa ser inclusiva, emancipadora e democrática para todos”, destacou Greco. 

Ana Amélia Menna Barreto

Na abertura do webinar, a 3ª vice-presidente do IAB, Ana Amélia Menna Barreto, destacou que a realização de debates sobre temas de interesse no Direito é parte essencial do trabalho da Casa de Montezuma: “O Instituto, dessa forma, cumpre o seu papel institucional de promover a difusão do conhecimento jurídico, oferecendo aos nossos ouvintes esse espaço de ensino gratuito”.

Em sua palestra, Greco também citou o caso do congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, que foi assassinado na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, em 2022. O caso do jovem, que era um refugiado político, ganhou destaque nacional e ampliou o debate sobre a necessidade de se garantirem os direitos humanos de pessoas como ele. De acordo com o pesquisador, as crises humanitárias ao redor do mundo têm contribuído para o aumento de refugiados, que costumam estar em situação de vulnerabilidade: “Eles têm uma vulnerabilidade potencializada e maximizada porque, geralmente, perderam tudo. Muitos são perseguidos e saem de seus países apenas com a roupa do corpo”. 

A política neoliberal aplicada na cidade do Rio, segundo Greco, que é professor de Direito Internacional Privado e Direito Civil, impacta diretamente a vida dos refugiados porque a moradia é um dos direitos sociais que custa mais caro ao poder público. “O Rio, e de um modo geral as metrópoles do Brasil, sempre trabalham com uma bússola elitista e segregadora. No entanto, a moradia, na opinião de boa parte dos autores do Direito Urbanístico, deveria ser priorizada por ser um trampolim para o acesso a outros direitos, como à segurança e à saúde, por exemplo”, disse o palestrante. 

Laura Berquó

A membro da Comissão de Direito Constitucional do IAB Laura Berquó, que mediou o debate, ressaltou que o tema atravessa diretamente o conceito de cidadania. “Talvez trabalhe-se para a eleição de políticas públicas e investimento de recursos para um grupo com um conceito restrito de cidadania, que está relacionado ao voto. Neste caso, os refugiados estariam excluídos e talvez por isso não sejam contemplados com políticas adequadas”, apontou a advogada. Endossando a ideia, o professor de Direito Internacional Privado e Direito Civil da Faculdade Nacional de Direito (FND) da UFRJ Marcos Vinícius Torres Pereira, que foi o debatedor da mesa, afirmou que “uma das questões que dificulta a assistência e a adoção de medidas de proteção aos refugiados é a questão eleitoral, já que, além de não ser para muitos políticos uma pauta sedutora, é o ‘problema do outro’”. 

Marcos Vinícius Torres Pereira

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