A obra é uma colaboração de 28 autores, entre professores e pesquisadores das temáticas de racismo e saúde. A docente do Dihs/Ensp/Fiocruz e vice-presidente do Nupegre/Emerj, Maria Helena Barros de Oliveira, afirmou que o livro foi construído através do compromisso com a luta racial no Brasil. "A gente espera que a obra seja discutida nos cursos de graduação, mestrados e doutorados. Mas, essencialmente, que ela possa ser discutida por um movimento antirracista forte, digno e profundamente comprometido”, afirmou. A contribuição da publicação para as reflexões sociais sobre as violências sofridas pela população negra também foi destacada pelo secretário da Comissão de Direitos Humanos do IAB, Paulo Fernando de Castro. “É muito importante que a gente traga essa temática para o meio acadêmico, porque precisamos humanizar as nossas relações jurídicas e sociais”.
A 1ª vice-presidente da Comissão de Criminologia do IAB, Roberta Duboc Pedrinha, explicou que a noção de raça foi trabalhada no livro à luz dos estudos de Frantz Fanon. O psiquiatra e filósofo francês, nascido na Martinica, abordou o conceito de maneira ampla, desde os aspectos biológicos até as perspectivas políticas que formam as subalternidades. De acordo com Pedrinha, o livro denuncia “a dimensão de violações de direitos humanos numa espécie de entrelaçamento entre a questão racial e as questões de saúde. Sendo a saúde entendida como integridade física e psíquica e um direito fundamental”.
O doutor pela PUC-SP e professor da UFRJ Jadir Brito afirmou que a obra está inserida em um contexto de reposicionamento das políticas públicas de saúde direcionadas para a população negra. “Quando nós falamos de proteção integral da saúde da população negra, racismo e saúde, nós estamos falando, por exemplo, para as populações indígenas, para os pretos e pardos, que são afrodescendente, e sobre um conjunto de patologias e comorbidades que são mais incidentes nesses grupos. Por outro lado, estamos falando de políticas públicas mais amplas”, afirmou. No texto do livro escrito pelo pesquisador, há, segundo ele, “a proposição de pensar numa perspectiva do devir dessas políticas públicas no Brasil, agora em um novo contexto democrático e político-social”.
Pensando especificamente na realidade das mulheres negras, a escritora e professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira Vilma Piedade, que é uma das autoras da obra, trabalhou de forma integral os acessos básicos que o grupo possui. A docente lembrou que até hoje existem denúncias de casos onde mulheres negras recebem menos anestésicos. “Inventaram lá atrás, na escravidão, que negro é resistente a dor, então nós ficamos com essa carga. O racismo faz mal à saúde, racismo mata, racismo é excludente. A gente fala num racismo estrutural, mas ele é estruturante das relações, de todas as relações, e é muito presente na saúde”.