O evento foi presidido pela 2ª vice-presidente do IAB, Adriana Brasil Guimarães, que destacou a preocupação da instituição em promover a divulgação de cultura e conhecimento. A mediação foi feita pela diretora da Biblioteca, Marcia Dinis, e o debate também teve a participação do presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Octávio Costa; do jornalista e escritor Ricardo Lessa; do diplomata e vice-presidente da Comissão de Direito Internacional do IAB, Paulo Fernando Pinheiro Machado, e da diretora de Comunicação, Carmela Grüne.
Na abertura da reunião, os palestrantes relembraram a trajetória de José Jobim, que foi precoce na percepção dos perigos do discurso nazista no percurso histórico e morreu assassinado por um regime autoritário enquanto exercia sua função jornalística. Trazendo os perigos retóricos autoritários para o presente, Frei Betto alertou que, no Brasil de hoje, ainda existem representações políticas que reforçam ideias antidemocráticas. “Jobim confidenciou a amigos que escrevia um livro que detalharia as irregularidades na obra de construção da usina de Itaipu. Seis dias depois, no Rio, foi sequestrado e morto em condições que forjavam um suícidio. Hoje temos essa honra de comemorar a vida, o testemunho, a trajetória honrosa e combativa do embaixador José Jobim, mas também o relançamento do livro Hitler e seus comediantes na tragicomédia. É fundamental que a gente propague esta obra, para que se evite que o ovo da serpente seja germinado também em terras brasileiras”, disse o frade.
A ocasião trágica da partida de Jobim também foi lembrada com emoção pelo seu sobrinho-neto Paulo Fernando Pinheiro Machado, que destacou as qualidades do escritor como jornalista. “Nesse livro conheci a força dele, a coragem e o senso de justiça de um rapaz de vinte e poucos anos que não se calou. Nesse livro de juventude, vemos que ele tem grande capacidade, como jornalista, de entrar nas situações. O relato é uma genialidade diplomática”. Da mesma forma, Octávio Costa lembrou que o exercício de combate ao fascismo através da cultura e da informação também pode ser observado na qualidade do livro. “Ele descreve com perfeição e com olhar de repórter o racismo, a perseguição aos judeus e tudo mais. É um texto muito agradável de se ler, mas ao mesmo tempo um documento extraordinário”, completou.
Ricardo Lessa também destacou que Jobim exerceu com maestria o papel jornalístico de expor a barbárie em governos que perseguem a imprensa, desacreditam a ciência e desrespeitam as universidades. Autor do perfil de Jobim na versão digital da revista Piauí, o jornalista enfatizou a importância de difundir a figura do homenageado para conhecimento amplo da população. “Os jornais não quiseram publicar o testemunho de um repórter. A vivíssima crônica do que se passava na Alemanha na época foi censurada. A gente viu a perpetuação desse silenciamento de lutadores pela democracia”, afirmou.
Por causa da censura, o livro foi pouco impresso e ficou esgotado por quase 90 anos, como lembrou Marcia Dinis. A advogada sublinhou a importância de ler e homenagear pessoas que, como Jobim, lutaram pelo Estado democrático. “Temos que enaltecer a coragem e a busca dele pelos Direitos Humanos, além da inteligência de ter percebido, mesmo jovem, onde chegaria o regime de perfil fascista e nazista que se iniciava na Alemanha”, disse ela. Ao lembrar que Jobim foi o primeiro diplomata morto na ditadura, Carmela Grüne afirmou que o papel que o homenageado exerceu ecoa até hoje. “É importante falar da qualidade e do empenho que ele teve na defesa da liberdade e do direito de manifestação que exercemos atualmente”.