Antes da homenagem, a advogada trabalhista pediu um minuto de silêncio pela memória do ex-presidente do IAB Celso Soares. “Foi um dos grandes nomes da advocacia trabalhista brasileira”, enfatizou a presidente. A saudação a Felipe Santa Cruz foi feita pelo ex-senador, ex-presidente do CFOAB, membro do Conselho Superior do IAB e relator da Assembleia Nacional Constituinte Bernardo Cabral, que participou virtualmente do evento, transmitido pelo canal TVIAB no YouTube.
Bernardo Cabral disse que a sua trajetória de vida e o destino do pai do homenageado, Fernando Santa Cruz, até hoje um desaparecido político, contribuíram para a sua proximidade com o também ex-presidente da Ordem. “Uma grande brutalidade ocorreu com o seu pai, e eu sofri as consequências do famigerado Ato Institucional número 5, que cassou os meus direitos políticos e me atingiu profundamente em todos os âmbitos, inclusive o profissional”, disse o ex-senador, que acrescentou: “Você exerceu com uma coragem exemplar a presidência do Conselho Federal da Ordem num período muito difícil para o País e merece esta homenagem”.
Felipe Santa Cruz disse que a escolha do seu nome para ser agraciado com a Medalha Luiz Gama se deveu a uma trajetória que supera os três anos em que ficou à frente do CFOAB. “Considero essa homenagem fruto da contribuição que pude dar à advocacia brasileira, não somente como presidente da Ordem, mas nos últimos 20 anos, em várias frentes, inclusive quando estávamos na oposição à direção da Seccional do Rio de Janeiro”, destacou.
Obstáculos e vitórias – O homenageado ressaltou obstáculos e vitórias que marcaram a sua presidência na OAB Nacional: “Conduzimos a Ordem num momento em que havia um plano no País voltado para destruí-la, inclusive acabando com o Exame de Ordem e a obrigatoriedade de profissionais se inscreverem em conselhos de classe, mas conseguimos nos manter fortes e, inclusive, aprovar a lei que criminaliza a violação das prerrogativas da advocacia”. Felipe Santa Cruz também citou o que considera o maior feito da sua gestão à frente da OAB Nacional: “Fizemos uma revolução na democracia interna da Ordem, rompendo com o conservadorismo e o machismo, me cabendo com orgulho a oportunidade de desempatar a votação a respeito da aplicação ou não da paridade de gênero e das cotas raciais de 30% nas eleições do Sistema OAB, ambas hoje em vigor”.
O ex-presidente do CFOAB alertou que é preciso manter atenção aos retrocessos que ameaçam o País. De acordo com ele, “há muita gente, inclusive na advocacia, que acredita no caminho do ódio, do autoritarismo e da violência, sendo necessário manter o diálogo com elas, para mostrar-lhes a importância da democracia”.
Integraram a mesa de honra o 2º vice-presidente do IAB, Sydney Sanches, eleito esta semana para presidir a entidade no triênio 2022/2025; a secretária-geral, Adriana Brasil Guimarães, e os presidentes da OAB/RJ, Luciano Bandeira, e da Caixa de Assistência da Advocacia do Rio de Janeiro (Caarj), Ricardo Menezes. Para Sydney Sanches, “em um momento gravíssimo de crise sanitária, Felipe Santa Cruz contribuiu decisivamente para que a Ordem e o País se mantivessem hígidos”. De acordo com Luciano Bandeira, “Felipe Santa Cruz conseguiu levar o Rio de Janeiro novamente para o centro do mundo jurídico”.
A ex-advogada de presos políticos Flora Strozemberg, que foi presa na ditadura militar e é membro da Comissão de Direito Constitucional do IAB, também se manifestou no plenário. Ela levou às lágrimas o homenageado, que conheceu quando ainda era um menino, ao relembrar o episódio em que ele perguntou à mãe se “uma criança pode ser feliz sem pai”.
O diretor de Comunicação da OAB/RJ, Marcus Vinícius Cordeiro, recém-nomeado presidente da Comissão de Direito Coletivo do Trabalho e Direito Sindical do IAB, também fez uso da palavra: “O advogado tem a missão de traduzir as leis para o cidadão comum, mas Felipe fez mais do que isso, ao traduzir para as pessoas comuns o que é cidadania”. Na opinião do consócio José Agripino, “nos últimos tempos, nenhum presidente do Conselho Federal da Ordem enfrentou tantos momentos difíceis como ele”.
O vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos do IAB, Marcos Luiz Oliveira de Souza, disse que quando conheceu o agraciado, há muitos anos, “sabia que ele iria alçar grandes voos”. Para a vice-presidente da Caarj, Marisa Gaudio, o voto de desempate a favor da paridade de gênero e das cotas raciais foi “histórico”.