A respeito de Hannah Arendt, que nasceu em Linden (Alemanha), em 1906, morreu em Nova Iorque (EUA), em 1975, e é considerada uma das filósofas mais influentes do século XX, Maria Lucia Gyrão disse: “Ela era judia e passou a vida escrevendo e fazendo palestras contra o totalitarismo, além de defender a educação como instrumento indispensável para a garantia da dignidade da mulher”. A advogada destacou que “a também judia Edith Stein lutou contra o regime totalitário de Hitler e pelo direito das mulheres ao voto e à educação, vindo a morrer no campo de concentração de Auschwitz, em 1942, aos 50 anos, quando já havia se convertido ao catolicismo”.
Maria Lucia Gyrão ressaltou que Edith Stein foi a segunda mulher a receber um título de doutorado em Filosofia na Alemanha, além de se tornar assistente de Edmund Husserl, “o mais eminente filósofo de seu tempo, fundador da escola da fenomenologia”. Segundo a advogada, “a fenomenologia é um método de busca da verdade que recorre a dois instrumentos para alcançá-la, sendo o primeiro deles a chamada redução eidética”. Maria Lucia Gyrão explicou que “trata-se de uma técnica que consiste no afastamento dos preconceitos que envolvem os fatos”. De acordo com ela, “o segundo instrumento é a análise do fato na sua essência, sem contornos, para ressaltar a sua verdade, conduta esta que, aliás, deveria ser praticada pela magistratura brasileira, que não pode analisar os fatos com os seus preconceitos e pontos de vista de classe”.
Estudo de campo – A vice-presidente da Comissão de Filosofia do Direito salientou que a francesa Simone Weil, que nasceu em 1909 e morreu em 1943, “decidiu se tornar operária, vindo a trabalhar na fábrica da Renault, para conhecer melhor o cotidiano dos operários e poder escrever com autoridade e profundidade a respeito da vida que levavam os trabalhadores franceses nas primeiras décadas do século XX”. Conforme Maria Lúcia Gyrão, “Simone Weil conclamava os estudiosos a irem a campo conhecer as fábricas, vivenciar e sentir a dor e as humilhações sofridas pelos operários”.
Leila Maria Bittencourt da Silva concentrou a sua exposição em Hannah Arendt. “Nem sempre a vida de um autor importa muito na sua obra, mas no caso de Hannah Arendt existe uma convergência entre a vida dela e a sua produção científica, já que ambas foram marcadas pela perseguição nazista, pelo sofrimento decorrente do antissemitismo e por sua situação de apátrida, ao ter a sua nacionalidade retirada pelo nazismo, o que a forçou a deixar a Alemanha e ir viver nos Estados Unidos”, disse. De acordo com a advogada, “enquanto pensadora, ela se via moralmente obrigada a estudar para compreender o totalitarismo e saber como lutar politicamente contra ele”.
Um ponto fundamental que Leila Maria Bittencourt da Silva destacou na obra da filósofa alemã foi “a conceituação da distinção entre poder e violência”. Ela acrescentou: “Aliás, Sobre a violência é o título de um livro memorável escrito por ela e publicado em 1969, que traz reflexões sobre os conflitos políticos da época”. A década de 1960 foi marcada pelas guerras de independência em diversos países africanos, pela implantação de ditaduras militares em países da América do Sul, pela Guerra do Vietnã e pela ameaça atômica, em razão da crise dos mísseis de Cuba.