"A conquista de espaço para as mulheres em muitos países da União Europeia se deveu à adoção do sistema de cotas, que eu apoio, e varia geralmente de 10% a 15% dos cargos”, disse. Marisa Matias informou ainda que “em alguns países há paridade, sendo que em Portugal um terço dos cargos políticos é destinado às mulheres”. O webinar, que fez parte da série Mulheres na política, foi aberto pela presidente nacional do IAB, Rita Cortez. “Há situações semelhantes entre o Brasil e muitos países da Comunidade Europeia, como, por exemplo, a baixa presença de mulheres nos cargos mais elevados”, afirmou a advogada.
Os debates foram mediados pela presidente da Comissão de Direito Eleitoral, Vânia Aieta, que criticou a violência contra as mulheres no Brasil: “Aqui, a violência de gênero não é somente física, mas também psicológica e muito entranhada no comportamento masculino, sobretudo daqueles que se encaixam na figura do esquerdo-macho, que é aquele que tem um discurso lindo no parlamento em defesa da paridade, mas opera internamente de forma cruel contra as colegas do partido”.
A parlamentar portuguesa comentou o que ocorre em seu País. “Não temos em Portugal um nível elevado de violência física, mas sim de violência verbal e simbólica, em que as mulheres são vitimadas intensamente, independentemente de terem posicionamentos à esquerda ou à direita”, disse. Marisa Matias contou que já foi insultada com palavras do tipo “depravada”, “promíscua sexual”, “vaca” e “suja”. Ela disse esperar por maiores conquistas nas próximas décadas: “Ainda é insuficiente a ocupação feminina nos cargos mais elevados da vida pública em Portugal, mas confio que as próximas gerações avancem no sentido de reduzir as desigualdades estruturais e sistêmicas que contêm o nosso crescimento”.
O deputado federal constituinte Miro Teixeira, membro efetivo do IAB, também participou do debate. “Ainda persiste no País uma cultura lamentável de tentar manter as mulheres no universo doméstico, limitando a sua participação na política”, afirmou o advogado e ex-parlamentar. Para Miro Teixeira, as restrições às mulheres preponderam na ocupação dos cargos eletivos. “Quando se fala de nomeações por meio de concursos públicos, as mulheres avançaram muito no Brasil, sendo este um avanço muito acima do obtido por elas no Legislativo”, disse. Também participou virtualmente do webinar a vice-presidente da Caixa de Assistência da Advocacia do Estado do Rio de Janeiro (Caarj), Marisa Gaudio.