Celso Amorim, que esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores nos governos Itamar Franco, de 1993 a 1995, e Lula, de 2003 a 2010, disse que “por uma coincidência histórica” esteve presente em vários momentos da construção do Mercosul. “No governo Collor, eu era o diretor da área econômica do Itamaraty e rubriquei o documento que pode ser chamado de certidão de nascimento do bloco econômico”, contou o diplomata. Em dezembro de 1994, ele era ministro quando foi assinado o Protocolo de Ouro Preto, documento que formalizou a entrada em vigor, a partir de 1º de janeiro de 1995, do tratado de livre comércio entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

De acordo com Celso Amorim, a consolidação do bloco econômico não pode depender apenas das boas relações diplomáticas entre os países que o integram. “Não faz sentido você tomar outras iniciativas sem buscar, essencialmente, o livre comércio, cuja realização exige que o Mercosul tenha como base uma união aduaneira entre os países”, afirmou o ex-chanceler, que defendeu também a inclusão no bloco econômico de outros países sul-americanos, como a Bolívia e o Equador, como também da América Latina e do Caribe.
Natureza política – O diplomata comentou que o Mercosul não nasceu com pretensões meramente comerciais e se desenvolveu a partir da aproximação entre o Brasil e a Argentina: “A motivação principal foi de natureza política, e não de ordem econômica, pois os presidentes Sarney e Raúl Alfonsín, movidos pelos processos de redemocratização instaurados nos dois países após as ditaduras militares, deram impulso à relação Brasil-Argentina”.
De acordo com ele, nos governos seguintes, de Fernando Collor e Carlos Menem, foi assinado o Acordo Brasil-Argentina, em 1991, para o uso exclusivamente pacífico da energia nuclear, vedando a produção de armas químicas e biológicas. Ainda em 1991, lembrou ele, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai firmaram o Tratado de Assunção, com o objetivo de criar o Mercosul.
O ex-ministro das Relações Exteriores disse, ainda, que a afirmação do bloco econômico exige investidas em outros espaços. Para preservar o Mercosul, é preciso ressuscitar a Unasul e fortalecer a Celac”, propôs. A União Sul-Americana das Nações (Unasul) surgiu em 2008, como uma articulação no âmbito cultural, social, econômico e político entre os países da América do Sul. A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) foi criada em 2010 com o propósito de promover o diálogo e fortalecer a democracia na região.