O homenageado, que "era uma figura extraordinária de advogado e um dos maiores exemplos de generosidade e solidariedade", ressaltou o presidente do IAB, escolheu Técio e Antônio Carlos Barandier para defender os seus quatro filhos perseguidos pela ditadura militar imposta em 1964, dois deles presos, torturados e banidos do País. Da tribuna do plenário, ao discursar em nome da família, o neto Vítor Acselrad, bacharel em História e com mestrado e doutorado em Ciência Política, disse que o homenageado "considerava Técio e Barandier os heróis que arrancaram os seus filhos da prisão".
Em seu discurso, ele disse ainda que o avô "preferia ver os filhos à distância a vê-los próximos e no cárcere". A respeito da avó Lúcia, Vítor destacou que "ela tinha paixão pelas letras, era amante e praticante de poesia e tocava piano com a mesma doçura com que tratava os netos". Compareceram à cerimônia os filhos Daniel, Samuel, Marcos e Gilberta, nove netos, 12 bisnetos, um genro e duas noras. Todos usavam gravatas-borboleta, marca registrada da indumentária de Daniel Aarão Reis.
Acervo do coração - Técio abriu o baú, que chamou de "acervo do coração", e leu passagens de diversas cartas. "São escritos comoventes", afirmou o presidente do IAB, que foi às lágrimas em diversos momentos. "Daniel, que ficou órfão aos 36 anos e chamava a mim e a Barandier de seus pais, é uma grande lição humana, por sua solidariedade não somente aos familiares, mas a todos os presos políticos da ditadura", ressaltou. Antônio Carlos Barandier disse que "Daniel Aarão Reis foi uma pessoa admirável, com a sua infalível gravata-borboleta, e um dos mais autênticos exemplos de bravura". Em seu livro Relatos - um advogado na ditatura, Barandier exalta a trajetória de Daniel na vida e na profissão, conforme a leitura de alguns trechos feita por Técio.
Antes de passar a palavra para o ex-presidente do IAB e do Conselho Federal da OAB Eduardo Seabra Fagundes, incumbido de fazer a saudação à memória do homenageado, Técio registrou que Daniel tinha por Eduardo uma estima muito grande. "Me sinto extremamente honrado por ter sido escolhido para fazer este pronunciamento", iniciou o ex-presidente. "A Biblioteca do IAB era um depósito de livros e não alcançava os seus objetivos porque não tinha a organização necessária, passando a cumprir a sua função somente após Daniel, com a sua dedicação extraordinária, transformá-la realmente num espaço de estudos e trabalhos", afirmou Eduardo Seabra Fagundes, que esteve à frente do IAB no biênio 1976/1978. "Ele exerceu a advocacia por 60 anos, o que poucos conseguem, e ficamos amigos até o fim da vida dele", concluiu.
Na Biblioteca Daniel Aarão Reis foi montada uma exposição, que ficará aberta até o dia 4 de agosto, reunindo fotografias, diplomas, medalhas, a carteira da OAB e boletins assinados pelo homenageado com o registro das atividades da biblioteca.