Matos, que conduziu a palestra sobre A inovação da inteligência artificial nas pesquisas científicas, ressaltou que o uso desse tipo de ferramenta nos ambientes educacionais deve vir associado à busca pela igualdade de oportunidades. Ela lembrou que na pandemia, quando o ambiente virtual foi fundamental para o ensino, muitos alunos se viram prejudicados pela falta de recursos para adquirir equipamentos tecnológicos. “Quando pensamos em usar a IA para estimular as habilidades práticas, também precisamos pensar em como fazer chegar esse ensino tecnológico para os alunos de forma isonômica”, enfatizou a professora.
Na abertura do webinar, a 3ª vice-presidente do IAB, Ana Amélia Menna Barreto, parabenizou a Comissão de Educação e Relações Universitárias pela iniciativa do evento e destacou a importância de enfrentar os desafios do uso da inteligência artificial no Direito. Diretora de Comunicação da entidade, Carmela Grüne sublinhou que a IA tem trazido diversas provocações para o ensino jurídico, incluindo questões como direitos autorais e modelos de aprendizagem. “Esperamos ter mais luzes e direcionamentos em relação a diversos tipos de abordagem que a tecnologia pode ter”, afirmou a advogada.
No painel sobre Aspectos gerais e históricos da inteligência artificial, Ana Amélia Menna Barreto apontou que os primeiros testes para distinguir a IA da inteligência humana foram realizados pelo matemático inglês Alan Turing, considerado o pai da computação. “Quanto mais perguntas um computador respondesse sem que a pessoa suspeitasse se tratar de uma máquina, mais parecido com um ser humano ele seria”, disse. A advogada, que preside a Comissão de Inteligência Artificial e Inovação do IAB, lembrou que o debate sobre o tema voltou a ser tendência em 2020, quando surgiu o Chat GPT 3, inteligência artificial capaz de gerar textos altamente coerentes.
“Agora, a implementação de medidas regulatórias é uma preocupação para governos, entidades privadas e pesquisadores. Eles buscam formas de garantir que o avanço da IA ocorra de forma segura, protegendo direitos fundamentais e preservando a dignidade humana”, disse Menna Barreto. Segundo ela, a questão legal é fundamental porque a IA não regulada não se mostrou eficiente na defesa dos direitos: “Ela representa riscos para o meio ambiente, para a democracia e para o Estado de Direito, além de reforçar vieses discriminatórios nas mais variadas esferas”.
Acessibilidade – O uso da inteligência artificial também pode ser fundamental para a inclusão de pessoas com deficiência e pessoas com atraso de aprendizado. É o que lembrou o professor e membro da Comissão de Educação e Assuntos Universitários do IAB, Luiz Claudio Gonçalves Junior, que apresentou o painel O “pecado” e a “redenção” da inteligência artificial na graduação jurídica. De acordo com ele, recursos como a audiodescrição podem ampliar o universo de possibilidades para muitos estudantes: “IA’s podem fazer PDF’s com áudios para incluir pessoas com deficiência visual. Em outros casos, os alunos podem ter acesso a materiais em outras línguas, com tradução feita por essas ferramentas”.
Outro benefício citado pelo professor foi a possibilidade de personalização da aprendizagem. “A inteligência artificial, através de seus recursos, pode detectar dificuldades de alunos e ajudar o professor na melhoria desses pontos. E para aqueles que estão indo bem, ela pode criar ações mais complexas para que eles evoluam em etapas”, explicou. No entanto, Gonçalves apontou que o uso dessas ferramentas no ensino tem pontos de atenção, já que elas podem gerar dependência tecnológica e desumanização da educação. “Isso pode corroborar uma não empatia do aluno em relação aos outros. Ele pode se tornar pouco sociável porque o convívio nas telas passou a ser principal em sua vida”, alertou.
Ao fim do evento, a presidente da Comissão de Educação e Relações Universitárias, Benizete Ramos de Medeiros, expressou outras preocupações sobre o uso excessivo da inteligência artificial dentro do ambiente acadêmico. Ela contou que tem visto alunos de turmas de mestrado e doutorado fazerem suas buscas por IA e colocarem de lado o trabalho de pesquisa. “O que me incomoda é usar o Chat GPT para fazer um ‘copia e cola’. O que vamos oferecer à sociedade e à comunidade acadêmica se não temos um interesse ou hipóteses próprias formadas?”, questionou a advogada.