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Sexta, 16 Dezembro 2022 23:30

Prostitutas da Vila Mimosa ganham voz em livro lançado no IAB

Da esq. para a dir., Edmée da Conceição Cardoso, Marcia Dinis, Siro Darlan, Carlos Eduardo Machado, Nélio Georgini, Cleide de Almeida, Indianara Siqueira e Elisabeth Barúana Da esq. para a dir., Edmée da Conceição Cardoso, Marcia Dinis, Siro Darlan, Carlos Eduardo Machado, Nélio Georgini, Cleide de Almeida, Indianara Siqueira e Elisabeth Barúana

Como a Geni, de Chico Buarque, muitas mulheres que usam o corpo como meio de sustento são rechaçadas pela sociedade. O que a opinião pública não percebe, segundo o desembargador do TJRJ, Siro Darlan, é a importância social e política das prostitutas. “Não há nenhuma diferença entre elas e eu, magistrado. Não temos diferenças sob o ponto de vista sociológico e sob o ponto de vista da necessidade de respeito aos direitos humanos”, afirmou Darlan, que mergulhou no universo da prostituição ajudando mulheres da Vila Mimosa, no Rio de Janeiro, a alcançarem direitos sociais. Em parceria com a assistente social Cleide de Almeida, o desembargador uniu relatos de profissionais do sexo e publicou o livro Vila Mimosa, além do sexo, lançado no Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) nesta sexta-feira (16/12).

A mesa de debate do evento foi conduzida pelo 1° vice-presidente do IAB, Carlos Eduardo Machado, que destacou a importância do projeto Saindo do Prelo, do Instituto, que promove o lançamento de obras de interesse social e jurídico. “Fazemos a divulgação e o debate sobre obras de forma que as pessoas se interessem pela leitura, o que é importantíssimo para construirmos uma sociedade mais justa, equilibrada e equânime”, afirmou. 

A apresentação da obra foi mediada pela diretora de Biblioteca do Instituto, Marcia Dinis, que reiterou a fala do vice-presidente, afirmando que o objetivo dos lançamentos é a divulgação de cultura e conhecimento. O debate também foi prestigiado pela diretora secretária de Diversidade e Representação Racial do IAB, Edmée da Conceição Ribeiro Cardoso; pelo diretor de Eventos da entidade, Nélio Georgini; pela membro da Comissão dos Direitos da Mulher do IAB Elisabeth Barúana e pela ativista transexual Indianara Siqueira. A ex-presidente do Instituto Rita Cortez também participou virtualmente.

O primeiro contato de Siro Darlan com a Vila Mimosa, zona de prostituição mais conhecida do Rio, foi através de uma denúncia. Na época juiz da Vara de Menores, ele foi alertado sobre a existência de exploração sexual infantil na região. “Eu fui lá com aquele espírito persecutório, reprovador e moralista para saber se realmente havia exploração da prostituição infantil. Lá encontrei crianças sim, não crianças prostituídas, mas muitas crianças, filhas dos moradores daquela localidade e até também de algumas profissionais”, relatou. Nesse contato, contou Darlan, ele percebeu que muitas mulheres estavam naquele lugar por desconhecerem direitos fundamentais que contribuem para o acesso a dignidades sociais. “Eu passei a ficar interessado em ajudar na transformação dessas meninas”. Uma delas, segundo o desembargador, se prostituia para comprar ao filho com deficiência remédios que são distribuídos gratuitamente pelo governo. 

A assistente social Cleide de Almeida já atuava ajudando mulheres da Vila Mimosa quando Darlan chegou. Ela teve contato com essa realidade muito antes de exercer a profissão. Quando criança, a mãe da coautora trabalhava como costureira para as profissionais do sexo, o que fez com que ela crescesse próxima dessas mulheres. “Os melhores conselhos que eu ouvi foram de prostitutas”, relatou. Na Vila Mimosa, a assistente social lutou pela dignidade das profissionais através da garantia de direitos e do crescimento pessoal. Ela atuou na luta pela implementação, por exemplo, de cursos profissionalizantes que atingissem as prostitutas e os moradores carentes da região.

Do encontro entre o então juiz e a assistente social, surgiu a iniciativa de compartilhar a realidade do local. “Me veio a ideia de levar à sociedade o conhecimento de quem são essas trabalhadoras do sexo, o depoimento delas e a vida sofrida que levam. Então, pedi que fizessem depoimentos”, contou Siro Darlan. Os organizadores começaram a publicar os relatos, de acordo com o desembargador, para “tirar do porão essas ‘Genis’ que são tão ameaçadas, tão esculachadas e que têm uma importância social tão grande”. Segundo a assistente social, surgiu dos depoimentos uma parte da história da prostituição até então desconhecida. 

Outro objetivo da publicação, relatou Cleide de Almeida, é combater esteriótipos sociais. “Ainda existem pessoas, dentro da sociedade, nos dias de hoje que pensam que a mulher se prostitui só porque ela quer, porque é promíscua, porque quer vida fácil. Essas pessoas vão perceber que a história não é bem assim”. Para Marcia Dinis, “mais do que contar as histórias, o livro nos incita a promover ações e não ficarmos indiferentes a essa luta, que é tão difícil e que precisa tanto de todos os cidadãos preocupados com direitos humanos, com igualdade e com o acesso à justiça e aos serviços públicos que, na maior parte das vezes, são negados para os grupos vulneráveis”.

Da mesma maneira, Indianara afirmou que “o que leva as pessoas a algumas situações é a falta de oportunidade”. A ativista, que já foi prostituta, disse que é importante “deixar de lado essa questão moral que vê a prostituição como algo criminoso”. Elisabeth Barúana lembrou que “a falta de proteção social dessas profissionais tem um desdobramento dentro da nossa política pública”. Nesse sentido, segundo a advogada, o livro atua como um “despertar” para a situação estrutural das prostitutas. 

A Vila Mimosa também atravessou a experiência profissional de Edmée da Conceição Cardoso, assistente social de formação. A advogada atuou na Assistência Social do município do Rio e escolheu ir para a região de prostituição para ajudar mulheres. “Ao lado do Juizado de Menores, fiz um trabalho onde criamos cestas básicas, que não era algo falado na época”, relatou a diretora. Nélio Georgini, quando trabalhou na pasta da diversidade também do município do Rio, foi à região para cuidar da prevenção a infecções sexualmente transmissíveis. “Eu fui imbuído com o pensamento básico que é a constitucionalização do Direito. A dignidade da pessoa humana é o coração que deve ser preservado no Direito”. 

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