Em uma de suas últimas aparições públicas, o compositor participou do evento Direito, música e poesia, ocasião do lançamento do selo IAB Cultura, no dia 6 de agosto deste ano. No encontro, ele dividiu com ouvintes do plenário histórico memórias da carreira e detalhes de seu processo criativo. Cícero contou que começou a compor quando sua irmã, a cantora Marina Lima, pegou um violão e musicou alguns poemas que ele escrevia: “Depois, passei a fazer o inverso, eu letrava as composições dela”. Na voz dela, poemas seus ficaram famosos em todo o Brasil, é o caso das canções Fullgás, Para começar e À francesa.
Antonio Cícero no plenário do IAB em agosto, ao lado da deputada estadual Tia Ju (à esq.) e da cantora Paula Lima (à dir.)
Presidente nacional do IAB, Sydney Limeira Sanches lamentou a partida do artista e o definiu como um homem dignificante. “A sabedoria sobre o significado da existência é um dom de poucos. E Antonio Cícero, talento raro do pensamento humano, por meio da arte, cultura, filosofia, crítica, poesia e música, compartilhou sua genialidade independente com o mundo, ofertando-nos um sublime conhecimento que iluminará com intensidade os corações e mentes de muitas gerações”, declarou. Citando Fullgás, um dos sucessos do compositor, ele completou: “Você me abre seus braços e a gente faz um País”.
Depois de decidir pela morte assistida, Antonio Cícero viajou a Paris e se despediu de uma das suas cidades favoritas no mundo, antes de seguir para Zurique, na Suíça. Ele optou por manter discrição sobre o procedimento, mas deixou aos amigos uma carta de despedida explicando os motivos de sua escolha. “Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”, finaliza o texto assinado por ele.
Trajetória – Antonio Cícero nasceu em 6 de outubro de 1945, no Rio de Janeiro. Além de se dedicar à música e à poesia, trabalhou como crítico literário e professor. Ele estudou Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e, depois, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ). Cícero também se especializou nos Estados Unidos pela Universidade de Georgetown e chegou a lecionar Filosofia e Lógica em universidades do Rio. Seu impacto na cultura brasileira foi reconhecido pela Academia Brasileira de Letras (ABL), onde o autor se tornou imortal em 2017 e ocupou a cadeira 27.