Segundo Suely Araújo, o IPCC também aponta que o mundo já esquentou 1,09 graus centígrados e, deste total, 1,07 foram atribuídos à ação humana. A palestrante lembrou que também há injustiça social em relação aos resultados da crise climática. “As pessoas e os países mais pobres sofrem mais os efeitos, apesar de não terem gerado a maior parte das emissões”, pontuou. Ela lembrou que o El Niño, fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico tropical, causou grandes danos na América do Sul neste ano. “Ele está modificado pelas alterações climáticas. Há perspectivas dos meteorologistas de que isso vai se repetir em 2024, então nós temos, ao mesmo tempo, a seca na Amazônia e inundações no Sul causadas pelo mesmo fenômeno”, ressaltou.
Carlos Eduardo Machado
A abertura do evento foi conduzida pelo 1º vice-presidente do IAB, Carlos Eduardo Machado. Ele destacou que as mudanças climáticas recentes demonstram o quanto o tema do debate é atual e preocupante: “Vemos essa onda de calor e o quanto os desmandos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, têm contribuído para isso com o desmatamento de florestas, agressões ao meio ambiente e falta de consciência mundial da necessidade de preservação do meio ambiente para o bem-estar de todos”.
Da esq. para a dir., Alexandre Costeira Frazão, Paulo de Bessa Antunes, Isabela Franco Guerra e Luiz Fernando Giesta
O evento também teve a participação dos membros da Comissão de Direito Ambiental do IAB Alexandre Costeira Frazão e Luiz Fernando Giesta e do presidente do mesmo grupo e professor titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Paulo de Bessa Antunes, com mediação da doutora em Direito pela Universidade Estácio de Sá (Unesa) e mestre em Direito pela PUC-Rio Isabela Franco Guerra.
Segundo Alexandre Frazão, os riscos climáticos, que podem ser de várias naturezas, precisam ser previstos. “Estamos em um certo paradoxo quanto aos eventos climáticos extremos, porque sabemos que eles vão acontecer e que vão ser mais frequentes – como essa onda de calor e as enchentes – e ainda não é possível saber quando esses eventos vão acontecer e a intensidade deles. Então, é muito difícil mitigar os efeitos dessas catástrofes”, afirmou o advogado.
Isabela Guerra destacou que as questões ambientais, especialmente as climáticas, devem ser sempre tratadas tanto a nível global quanto local: “Não podemos deixar de ter essa perspectiva no âmbito das estratégias e responsabilidades do Brasil”. De acordo com Paulo Bessa, discursos com interesses políticos e econômicos podem mascarar o problema climático: “Essa ideia de que um ‘homem genérico’ é quem polui a natureza e quem emite gases de efeito estufa, de certa maneira, esconde fatos reais e esconde quem é de fato que está fazendo tudo”.
Para Luiz Fernando Giesta, os acordos e convenções internacionais permanecem no papel e não encontram espaço nas ações práticas dos governos. “No plano internacional, os conflitos e beligerâncias que assolam nosso planeta têm tido o condão de provocar o secundamento do debate climático. Ao meu sentir, sempre que temos a valorização dos discursos geopolíticos, a questão ambiental perde espaço porque prepondera a necessidade de determinados valores, que estão sempre se sobrepondo e colocando o discurso relativo à emergência climática de lado”, disse o advogado.