O evento, promovido pelo projeto Saindo do Prelo, foi conduzido pela diretora de Biblioteca do IAB, Marcia Dinis, e teve a participação da autora da obra e também da jornalista e roteirista Gloria Barreto. No romance, Antonio, um homem de meia idade divorciado, se muda para Copenhagen e começa a descobrir o ofício da arte. Depois de conhecer Hans, um pintor dinamarquês, o protagonista passa a vivenciar novos lugares e relações. Ele não deixa, no entanto, de se corresponder com sua ex-mulher Marta, que só aparece pela voz do autor das cartas. “Julia usou a pintura como uma  grande metáfora da vida do Antonio e, com pinceladas, ela apresenta a história, enquanto o leitor vai descobrindo quem é aquele personagem”, explicou Gloria Barreto.

Bakken impressionou os leitores pela qualidade literária entregue por uma autora iniciante. “Se por um minuto você abstrair que o livro foi escrito por uma moça de 22 anos, ou se não tiver essa informação, você terá certeza absoluta de que é uma obra escrita por uma mulher madura, experiente, vivida e extremamente sensível à percepção da realidade”, disse Marcia Dinis. De acordo com a autora, apesar dos personagens da obra serem homens, o enredo do livro também traz uma relação com o feminino. “Uma coisa que eu me perguntava enquanto escrevia era o motivo de, com 22 anos, escrever sobre dois homens muito mais velhos do que eu. Às vezes isso me trazia uma certa insegurança, afinal, quantas histórias já não lemos sobre homens? Mas eu vi que não. Escrever do ponto de vista de um homem é falar sobre mulheres de outra forma”, explicou Julia Barandier.

Para a autora, o desenvolvimento do personagem masculino através do olhar de uma mulher é permeado por nuances não percebidas pelo gênero retratado: “Eu queria que isso ficasse de uma maneira sutil. Está nos detalhes, nas escolhas do Antonio e nas coisas que ele deixa de fazer”. Na visão do presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/RJ, Carlos Alberto Direito, também presente ao evento, há uma perspectiva masculina autocentrada na narrativa: “O Antonio não pergunta sobre a Marta. Ela, como um contraponto de vida dele, não teve relevância para o livro, na minha leitura. E eu vi um livro de amor, mas a si próprio”.

Segundo Marcia Dinis, o complexo perfil psicológico dos personagens também torna as entrelinhas carregadas de sentido: “Julia domina uma técnica narrativa de uma forma absolutamente segura, firme e, com talento, passeia por sentimentos e emoções com facilidade e com uma linearidade impressionante”. O nome do livro, que faz referência a um parque na Dinamarca, também revela o caráter aberto da obra. “Bakken é o que não aconteceu. Hans comenta com Antonio que gostaria de levá-lo nesse lugar, que é o primeiro parque de diversões do mundo, e eles não vão, mas fazem outros mil programas. Em outro momento, Antonio liga para Hans e o convida para ir a Bakken, mas Hans morre logo depois”, conta Julia. Para Gloria Barreto, a jovem escritora consegue se lançar no universo literário com autenticidade: “Ela mistura vários narradores, tem um narrador onisciente, uma narrativa epistolar, também descreve sonhos, e tem fluxo de consciência. Mesmo um escritor experiente poderia se perder colocando tudo isso em um formato, mas ela não se perdeu”.