Na sua palestra, o jurista Edis Milaré, pioneiro da advocacia ambiental no Brasil, defendeu a criação de um novo Código de Meio Ambiente. O presidente da União Brasileira da Advocacia Ambiental (UBAA), Paulo de Bessa Antunes, por sua vez, sugeriu que o projeto fosse produzido pela comissão do IAB, da qual, inclusive, foi presidente. “Na condição de academia jurídica do País, o Instituto reúne todas as condições de oferecer à sociedade um Código simples, que reduza toda essa confusão legislativa”, garantiu.
No encerramento do evento, que foi transmitido no canal TVIAB no YouTube, Rita Cortez ressaltou, também, a qualidade das palestras e dos debates travados nas últimas seis semanas. “Após uma profunda discussão sobre a legislação e a política ambiental praticada nos estados, hoje, no 11º e último painel do ciclo, reunimos a nata do Direito Ambiental para debater os instrumentos usados pela União na gestão ambiental”.
‘Beco sem saída’ – Dura crítica ao governo federal foi feita por Paulo de Bessa Antunes. Segundo ele, “o governo quer desmontar tudo que foi feito na área ambiental nas últimas décadas”. O advogado falou também em “truculência e incompetência”. O ex-presidente da Comissão de Direito Ambiental do IAB disse que os incêndios recentes no Pantanal são decorrentes da falta de organização e coordenação do governo. “A política ambiental é mais importante do que o Direito Ambiental, que é um instrumento para ela, mas a política do atual governo, com a sua incapacidade de diálogo, está levando a estrutura ambiental a um beco sem saída”.
Paulo de Bessa Antunes comentou a evolução da questão ambiental no Brasil. “Enquanto, em 1972, a posição do governo brasileiro na Convenção de Estocolmo era a de que a poluição era sinal de desenvolvimento, hoje, quase 50 anos depois, temos um número muito maior de áreas protegidas”, disse, em referência à primeira Conferência da ONU com chefes de Estado para tratar da degradação do meio ambiente. Segundo o presidente da UBAA, “ao longo dos anos, o País evoluiu na área ambiental, tanto que, em 1992, com todos os chefes de Estado do mundo reunidos no Rio de Janeiro, a diplomacia brasileira realizou acordos importantes, que agora estão sendo ignorados”.
Edis Milaré, além de defender a criação de um novo Código de Meio Ambiente, criticou decisões judiciais baseadas na Resolução 303/2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), classificada por ele como “ilegal e inconstitucional”. Ele citou o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), com sede em São Paulo. Segundo o jurista, o TRF3 determinou que a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) considere a norma nos seus atos de licenciamento ambiental.
‘Interpretação extravagante’ – “A resolução está morta, caducou, embora o Judiciário e o Ministério Público ainda insistam em tentar ressuscitar esse cadáver”, afirmou o advogado e doutor em Direitos Difusos e Coletivos pela PUC/SP. Ele criticou também o Supremo Tribunal Federal (STF) por não ter analisado “a inconstitucionalidade contida na norma”. Vanusa Murta Agrelli, que conduziu os trabalhos e também atuou com debatedora, concordou com a tese da caducidade da resolução e acrescentou: “É realmente uma interpretação extravagante do TRF3, ao fazer com que a norma se sobreponha à lei”.
O 3º vice-presidente da Comissão de Direito Ambiental do IAB, Marcelo Buzaglo Dantas, que também foi debatedor, criticou a aplicação da Resolução 303/2002. “Havia uma ilegalidade flagrante na norma desde a sua edição, mas com a entrada em vigor do novo Código Florestal, em 2012, ela se tornou ainda mais gritante”, afirmou.
Ex-secretário especial do Meio Ambiente, cargo que ocupou em 1985 e hoje equivale ao de ministro do Meio Ambiente, Roberto Messias Franco, que também foi presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nos anos de 2008 e 2009, criticou a “sobreposição de normas no País”.
O diretor de Licenciamento Ambiental do Ibama, Jônatas Trindade, destacou o crescimento da capacidade técnica do órgão. Segundo ele, “o conhecimento técnico tem sido ampliado e refletido, positivamente, na prática das principais atividades do Ibama, que são o licenciamento e a avaliação do impacto ambiental”.
Especialista em recuperação de áreas degradadas e em gestão pública nos setores energético e mineral, Jônatas Trindade disse, também, que o aprimoramento técnico tem agilizado a análise dos projetos de empreendimentos que necessitam de licenciamento ambiental para entrar em funcionamento.
OS MEMBROS DO IAB ATUAM EM DEFESA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. FILIE-SE!