Sydney Limeira Sanches
Para Sanches, “a vida de resultados imediatos vem alimentando os problemas que estamos enfrentando nas plataformas digitais”. Ele lembrou que “a imprensa tradicional está submetida a regulamentações, mas as plataformas digitais não". O advogado José Roberto de Castro Neves presidiu a mesa: “Destaco a qualidade dos debatedores que vão nos dar uma ideia muito clara de que o Direito não anda sem a cultura”. O representante institucional do IAB no Maranhão, Daniel Blume, secretariou a mesa.
Pedro Bial
O comunicador Pedro Bial mostrou que jornalistas e advogados têm pontos em comum. “Ambos falamos pelo povo. Outro ponto: as carreiras atraem jovens cheios do idealismo de querer mudar o mundo. É verdade que nem sempre isso dura para sempre”, ironizou. Bial fez ainda uma defesa acalorada da democracia dizendo que só ela pode garantir a liberdade de expressão e de pensamento. “São temas caros a advogados e jornalistas’, apontou.
Merval Pereira, jornalista e presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), falou sobre liberdades, cultura e democracia. “Não há cultura sem democracia, assim como não há liberdade sem ela. A luta pela manutenção da democracia tem que ser contínua”. Merval contou que a ABL criou um programa para fazer a cultura, por meio da literatura, chegar a todas as classes. “Fizemos acordo com o governo e estamos colocando bibliotecas em conjuntos populares das periferias para levar mais cultura. Nosso programa já abrangia quilombos, aldeias indígenas, presídios e outros locais e agora ficou mais completo”, explicou.
Merval Pereira e Andréa Pachá
O professor de Direito Tércio Sampaio Ferraz, da Universidade de São Paulo, teceu várias considerações sobre os ritos e rituais cotidianos e de como eles, parte da nossa cultura atual, influenciam o mundo jurídico. Ele disse que “os rituais estão sendo exorcizados nos processos eletrônicos. Eles trazem talvez mais transparência, mas também a desconfiança entre os atores dos julgamentos. É tudo muito frio. Isso terá repercussões no mundo jurídico e os advogados terão de se moldar a elas”.
A desembargadora Andréa Pachá, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), bateu na tecla da importância da literatura. “Advogados deveriam ler muito. Não leem. Não sabem o que perdem”, disse ela, autora de vários livros. “Não concebo alunos de Direito que não leem. Advogados mais literatos são os melhores, porque a literatura busca o humano e proporciona lições valiosas que podem ser aproveitadas nos processos”.
José Roberto de Castro Neves
O advogado Pedro Pacífico, criador do Bookster, que tem milhares de seguidores na internet, contou como sua vida mudou a partir do momento em que começou a ler muito e passou a indicar livros para os seus seguidores. “Advogado realmente lê pouca literatura. Eu mesmo era completamente bitolado. Percebi que o advogado não lê, primeiro porque não sabe o que ler. Depois porque, como a maioria dos leitores de hoje, quer leitura de utilidade, que traga resultados imediatos. Daí aposta em livros de autoajuda. Para ele, literatura virou sinônimo de tempo perdido. E não é! Pode-se aprender muito lendo bons livros”, relatou.
Já Judith Martins-Costa, da Academia Brasileira de Letras Jurídicas, outra autora de livros de Direito, conceituou as artes e a literatura como importantes armas da humanidade ao longo dos tempos: “Ler bons autores nos proporciona aprender a ver, a enxergar melhor os processos numa relação direta. Pelo texto literário, nós vemos o que o texto de Direito não nos permite ver”.
Antônio Cláudio Ferreira Netto, diretor jurídico das Organizações Globo, discorreu sobre a liberdade de expressão na era digital. Depois de dizer que o domínio da língua é poder, Antônio Cláudio centrou sua palestra na questão da regulamentação da internet. “O modelo de negócios das plataformas busca o que há de pior em nós. Elas sabem que o ódio cativa e dá lucro. Os algoritmos servem para captar esse ódio e é preciso colocar um fim nisso, por meio da regulamentação”, defendeu.
(Com informações da Assessoria de Imprensa do CFOAB.)